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O Ouriço

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Marcelo e as Religiões

Mendo Henriques 16 Mar 16

Mendo Henriques

Nos três dias de tomada de posse do nosso quinto Presidente da República da democracia portuguesa “Houve uma coisa simplesmente bela…” como diz o poeta.

Foi quando na tarde do dia 9, após a tomada de posse na Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa participou numa cerimónia inter-religiosa na Mesquita Central de Lisboa.

Aí destacou a “consagração da liberdade religiosa, que supõe a liberdade de não crer”. E o que mais disse sobre diálogo, entendimento e compreensão recíproca, sem negar diferenças, mostra que acredita numa coisa: confissão religiosa e ausência de religião são para serem partilhadas no espaço público e não só em espaços privados.

Mas onde está o benefício destas boas palavras? Esse é que é o ponto. Como é que o novo presidente enfrentou aquele preguiçoso anti-clericalismo português que se manifesta desde os tempos homéricos de Camilo, Eça, Brandão e Aquilino até à maldição hodierna sobre “as religiões” como provocadoras de guerra?

 

Por que razão religião e irreligião são importantes para a comunidade?

Multiplaexposição de Marcelo Rebelo de Sousa, antigo presidente do PSD, discursa durante a apresentação da sua candidatura à Presidência da República, na Biblioteca Municipal de Celorico de Basto, 9 de outubro de 2015.JOSÉ COELHO/LUSA

Marcelo quis mostrar que, como sociedade, estamos a virar uma página porque aprendemos a olhar para os outros sem os querer reduzir a nós. Ecumenismo é aproximação entre as Igrejas cristãs para ultrapassar divisões. Diálogo inter-religioso é relação das Igrejas com as outras religiões e com os que não têm nenhuma.

Aparte estas distinções, Marcelo apelou a “que os próximos cinco anos sejam vividos sob o signo da mesma paz, justiça e fraternidade” evocados pela reunião.

Na celebração inter-religiosa estiveram em pé de igualdade as várias confissões cristãs – católicos, evangélicos, adventistas e outros – seja qual for a sua expressão e peso em Portugal – e muçulmanos, judeus e budistas. Na realidade, quase duas dezenas de Igrejas e os sem religião nenhuma, ateus “graças a Deus”. Em pé de igualdade, por que o Estado é só um.

Podem ser várias as leituras políticas desta cerimónia. Uma delas é que o novo Presidente da República não quer que os refugiados muçulmanos do Médio Oriente que têm chegado à Europa sejam “os novos judeus”, alvos de perseguições.

Também é bastante claro que apela contra os ataques terroristas na Europa e no mundo. Até se pode pensar que a sua mente florentina e criativa escolheu um templo muçulmano para dar uma mensagem cristã.

Tudo bem. Mas isso fica em segundo plano face às palavras “breves, mas sentidas” de Marcelo de que “Portugal deve muita da sua grandeza secular ao seu espírito ecuménico.”

Essa é a coisa simplesmente bela: ter religião ou não ter religião não é assunto para ser tratado de modo clandestino: é para ser partilhado na praça pública.

Divisões, já temos que baste no nosso país.

 

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