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O Ouriço

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Antes de mais, o meu obrigado aos Blogs do Sapo por incluir o meu post Voltámos aos 19% na secção dos recortes.
Não é que me tenha esforçado muito para escrever este post (demorei menos de 5 minutos a fazer um copy+paste), mas como matemático, sofro de dois terríveis defeitos: Sou preguiçoso (porque só fiz um post de 11 linhas) e só olho a números (basta repararem por todas as minhas publicações por aqui).
Para corrigir um dos meus defeitos (a preguiça), decidi hoje e em dia de Conferência "O Estado da Troika" com Rui Rangel (um dos hedgehogs aqui da casa) por mais alguma lenha no flamming blogosférico que se encontra em estado de combustão no blogs Câmara CoorperativaUnião de Facto assim como dar um contributo para aquilo que Maria Teixeira Alves referiu no blog Farpas como sendo A diferença entre o essencial e o acessório
E tudo porque os senhores de esquerda e de direita não a chegaram a um consenso sobre os verdadeiros culpados de estarmos a pagar juros altíssimos pelo nosso pedido de ajuda externa aos senhores da TROIKA, o que é perfeitamente normal pois nem o aluno (Vítor Gaspar) e o professor (Miguel Beleza) estão em consenso nesta matéria.
Vamos primeiro voltar à questão que motivou toda esta polémica: Baixa rating de BBB+ para BB.
  • Passando pelos países com AAA, apenas a Alemanha não tem expressa a “perspectiva negativa” que já foi apontada sobre os outros três: Holanda, Luxemburgo e Finlândia;
  • Por via da metáfora da moeda inexistente, as dívidas a pagar pelos respectivos povos foram inflaccionadas em mais uns de milhares de milhões de euros, já para não falar das  colossais dívidas soberanas dos países periféricos;
  • Estima-se que no final de 2013, as dívidas soberanas de Irlanda, Portugal e Itália sejam da ordem dos 120% do PIB. 
Ao contrário do que anda a ser dito pela blogosfera, Portugal foi extremamente benificiado com esta saraivada de downgrades, pois as atenções foram agora desviadas para Espanha, Itália e Hungria.
No caso italiano (too-big-to-fail), a dívida soberana ronda os 2 Triliões de dólares de dívida soberana. Mesmo com a mudança de governo e já com as políticas de austeridade em curso, a situação de espanha, que quase foi obrigada a pedir ajuda externa em Julho, é semelhante à de Portugal nos finais de Março 2011.
Como Bélgica e França estão a caminhar para a nossa situação (embora não pareça,Itália e Hungria estão de momento bem piores que nós) e Luxemburgo seja uma economia bastante pequena, a haver resgate financeiro na zona euro, dos triplo A, apenas Alemanha, Finlândia e Holanda estariam em condições de resgatar Itália.
Ora bem: Se Áustria tivesse mantido o seu triplo A, o PIB dos 4 países juntos seria de 3.5 triliões, logo não contando com a Áustria, é matematicamente impossível resgatar uma economia da dimensão de Itália.
Este problema para além de matemático, é também um problema político e porquê? Porque pois na última cimeira europeia, a ministra das finanças finlandesa, Jutta Urpilainen levantou sérias objecções à futura participação da Finlândia em futuros resgates. Ups?!
No pior dos casos, os líderes europeus terão de optar por uma solução mais conciliadora: Aplicar escrupulosamente a iniciativa de Viena. Pelo menos, esta solução agrada tanto a finlandeses como a agências de rating.
Passemos agora aos bancos:
A encruzilhada onde a Alemanha se está a meter inconscientemente é algo que merece uma séria reflexão, tendo em conta a sua exposição à banca europeia. Ora vejamos:
O Unicredit, o segundo banco Italiano mais exposto à divida soberana, é dono do HypoVereinsbank (segundo maior banco Alemão) e do Bank Austria (o maior banco Austríaco), pelo que a bancarrota italiana induziria um efeito borboleta na banca alemã, levando ao colapso de toda a banca alemã, e por contágio, a banca americana corriria o risco de entrar em insolvência, indo ao encontro da recente visão do profeta da desgraça sobre o cenário sombrio da economia dos states para 2012 assim como abrandamento abrupto do crescimento económico na China.
Portanto, e discordando em parte com o que Helena Sacadura Cabral escreveu em Delito de Opinião, a S&P limitou-se a fazer o seu trabalho dizendo a verdade após ter feito o teste do algodão. Entre outras coisas, o rating serve para medir a probabilidade de um país ser forçado a uma reestruturação. 
No caso do objectivo primordial da zona euro, seja salvar a união monetária, a solução mais ortodoxa para evitar a hecatombe mundial, passaria por resgatar Itália e colocar Portugal, Espanha e Irlanda fora zona euro, pela razão que já apresentei acima, a menos que se faça a recapitalizão da banca europeia em velocidade cruzeiro (que me parece ser mais que inevitável), pelo menos para o caso da banca francesa e provavelmente na banca belga, de modo a evitar que dois dos principais bancos franceses, BNP Paribas & Crédit Agricole assim como o banco franco-belga Dexia fiquem piores que queijo roquefort bolorento.
No caso dos nossos bancos, não sei se isto poderá ter um efeito em espiral na dívida pública portuguesa pois como já avisei no início: sou matemático, sou preguiçoso mas não sou banqueiro e muito menos consultor financeiro para vos esclarecer sobre este assunto.
Onde está o cúmulo da bipolaridade? Perante a pressão da S&P a duas semanas da cimeira europeia, esperava-se que os líderes europeus tivessem um pouco de tento na língua:
  • Por exemplo, o BCE exprimiu publicamente o seu parecer dizendo que “foi um golpe devastador”, particularmente “problemático” em Itália;
  • Por seu turno, Merkel afirmou que “agora temos o desafio de implementar o pacto fiscal e o fundo de resgate permanente com maior rapidez”. 
  • Para juntar mais lenha à fogueira, o Governador do Deustche Bank veio-se manifestar publicamente à dias atrás após BCE ter triplicado a compra de dívida como resposta aos cortes de rating pela S&P. 
Isto é, Merkel,  Van Rompuy entre outros líderes europeus queixam-se pelo facto da S&P ter servido de polígrafo, escrevendo o que eles pensam mas não dizem. Basta procurarem o pacto fiscal que visa a uma rectificação do tratado de Lisboa e lerem-nos nas entrelinhas, contextualizando com as suas declarações de Setembro 2011 até hoje. 

Por esta razão reitero o que já foi dito por Luís Rego: a S&P prestou um grande serviço a Portugal, e a todos os periféricos da zona euro. Pena que o país assim como o nosso Primeiro só agora tenha acordado para esta injustiça, mas não o TENHAmos feito quando nos baixaram o rating de AA para BBB+, pois este SIM, foi TOTALMENTE INJUSTIFICADO e precipitou o nosso pedido de ajuda externa em Abril 2011, muito em parte devido ao facto da Alemanha ter recuado na sua estratégia de alargar o fundo de resgate em Março de 2011, devido a um chumbo...Os gráficos abaixo são parte da explicação.
Como diria o escritor austríaco Karl Krauss: "os políticos dizem mentiras aos jornais e depois acreditam no que lêem nos jornais". E por aqui me fico.
God bless Portugal
God bless our Politicians
God bless Europe
God bless Super Mario 
e dEUS ajude Cavaco (LOL)
FIM!
OBSERVAÇÃO:O último gráfico representa os juros da dívida Portuguesa de Outubro de 2010 a Março de 2011. Em Setembro 2010, quando os juros atingiram o primeiro pico, fora anunciado o PEC III, que serviu para preparar terreno para o Orçamento de Estado 2011, aprovado em Novembro 2010 com os votos a favor do PS e abstenção do PSD. No fina de Novembro 2010 ao início de Dezembro 2010, a juros da dívida portuguesa desceram substancialmente. 
Para fazer face ao deficitde financiamento para 2011, o IGCP anunciaria no final um leilão de 20 milhões de euros em obrigações do Tesouro. Nesta altura os juros da dívida portuguesa estavam entre os 6,889% e os 7,913%. Nesta altura défice orçamental anunciado pelo governo estimava-se abaixo dos 7,3%.
EXERCÍCIO: Comparar juros da dívida portuguesa de há um ano atrás com os juros da dívida espanhola de agora assim como o défice do estado espanhol.
CURIOSIDADES:

 

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14 comentários

De Jack Soifer a 23.01.2012 às 09:13

EXCELENTE ANÁLISE! Permita referir ao livro COMO SAIR DA CRISE 'B', onde escrevi sobre a concertação entre os grandes especuladores de fundos - onde apenas o George Soros dá a cara, as agências de rating e a manipulação das bolsas.Em 15/04/11 o VIDA ECONÓMICA publicou uma entrevista onde, na 1ªpágina se lê "Agências de rating deviam ter sido mais exigentes antes da recessão".
No PORTUGAL RURAL - A OPORTUNIDADE, capítulo A ACTUAL CRISE ECONÓMICA, há detalhes da manipulação das bolsas, incl. o HFN, High Frequency Negociation, jogo puro, ilegal, que a polícia nem os reguladores conseguiam compreender, devido a alta velocidade dos processadores modernos. Foi na bolsa de Estocolmo que isto parou na polícia, que a explicou ao NYSE, que até agora nada fez. Nas minhas colunas no VISÃO ONLINE ALTAVISA explico alguns dos truques de manipulação usados pelos 'piratas'.

De Faust Von Goethe a 24.01.2012 às 00:37

Jack,

Eu sou um especial fã de George Soros assim como de Mario Draghi. Acho que as pessoas deviam ler este artigo antes de dizerem o que quer que seja sobre ratings e políticas de austeridade:
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=527675

No caso húngaro, eu questiono o que seria melhor para eles de momento: Ter Sarkozy como genro, Merkel como sogra ou Soros como O PADRINHO =)? Fica a questão em aberto...

De Mendo Henriques a 23.01.2012 às 11:01

Super-torpedo de Nelson Faustino. Excelente. E eu acrescento como comentário um insight básico de Lonergan. Os mercados financeiros são indiferentemente objeto de acções de agentes públicos ou privados porque estão a redistribuir capital, seja sob que forma... empréstimo, juro, renda ... E porquê ? E como cereja no bolo a citação de um dos grandes críticos do séc XX, Karl Kraus ( só comum "s", pois...a é porque ele era anti SS)

De Faust Von Goethe a 24.01.2012 às 00:50

O livro do escritor austríaco Robert Musil: "o homem sem qualidades" também é uma boa sugestão de leitura a ter em conta :)

De Helena Sacadura Cabral a 23.01.2012 às 12:45

Caro Nelson
Compreendo a sua explicação. Mas considero que o problema da Áustria se liga particularmente à sua vizinha Hungria. Não esqueçamos que no ADN dos dois países ainda há muito do antigo Império Austro Húngaro, o que a geopolítica confirma.
Depois permanece no meu espírito uma questão: porque é que as outras duas agências não seguiram de imediato a S%P?
Acresce que tenho dificuldade em compreender - e o seu texto só vem confirma-lo - porque é que os 27 líderes europeus não tomam uma posição conjunta face à actuação das agências, mesmo sabendo que aos antigos países de leste isso interessa pouco, porque a dívida soberana não é o problema deles.
Por outro lado, continuo a duvidar seriamente das notações da S%P que deu triples A a Madoffs e companhias.
Finalmente pergunto: a quem interessa realmente a crise do euro?

De Faust Von Goethe a 23.01.2012 às 19:40

Cara Helena,

A sua explicação tem também lógica, e como tocou e bem: O nosso problema passa essencialmente por resolver o problema da dívida soberana: Como descalçar esta bota?
Como os líderes europeus pensam em resolver este problema, em particular o da dívida pública?
Sim, a europa precisa de superar as perdas em conjunto, mas ao ponto ao que chegámos, temos de arranjar a solução que cause menos perdas. Porque perder, já todos já perdemos e arriscamos-nos a perder mais se nada for feito de concreto.

De Helena Sacadura Cabral a 23.01.2012 às 22:30

E o meu caro amigo já viu agora a bela ideia do embargo petrolífero ao Irão? Andará tudo doido?!

De Faust Von Goethe a 24.01.2012 às 00:16

Eu não sei se andará tudo doido amiga Helena.

Apenas me lembro que 1 mês antes da quase-bancarrota dos estados unidos (lá o FED teve que imprimir mais uns dólares para forrar parede) e 15 dias antes da Moody's nos ter enviado para a reciclagem, veio a público que:
i) Houve um calote na venda de ouro à china: Não era ouro mas barras ouro mas de tungsténio;
ii) Várias famílias sairam de um momento para o outro deste negócio ?!

Agora falando mais a sério, a mim parece-me eminente uma verdadeira guerra entre os estados unidos e o irão e vai ser preciso voltar a investir em armamento. Logo, haverá por um lado a necessidade de financiamento (daí o rating dos EUA)para por as fábricas de armamento a produzir, e por outro lado eles querem a todo o custo manter o lobbie do petrodólar como relembrou e bem aqui o meu caro amigo John
http://oourico.blogs.sapo.pt/43083.html
Portanto, se banco mundial, perdão os estados unidos, estão a especular contra a europa, então estão a fazê-lo com o objectivo de sermos nós, europeus, a financiarmos parte da guerra por via dos juros altíssimos que já pagamos. A chantagem para não pagar os juros passará provavelmente por sermos seus aliados numa hipotética III guerra.
A última cimeira da ONU, usando a velha questão Palestina-Israel, foi apenas o amolar das facas.

De dorabella a 11.06.2012 às 20:45

Olá Nelson

Dentro de poucos meses vamos ver o colapso literal do dólar e com isso o colapso da economia mundial... isto faz parte da agenda para introduzir a "moeda" única que na verdade será uma forma electrónica de comercializar... o dinheiro vivo deixa de existir.

Uma advertência: Não vendem o ouro que têm em casa... andam a sacar o ouro todo para derreter para deixar nas mãos dos Rothechilds... cuidado com esses sacanas que andam famintos pelo tesouro da terra...

De dorabella a 11.06.2012 às 20:49

Infelizmente as coisas são demasiado simples... é uma emboscada ao mundo inteiro... há que complicar para que não se perceba o big picture... e é engraçado como se vê o mundo inteiro em andamento a convergir para esta maldita "nova ordem mundial"... o holocausto não foi nada em comparação...

De Faust Von Goethe a 11.06.2012 às 22:45

Uma guerra de rapina sem recurso a material bélico...

De dorabella a 12.06.2012 às 10:07

Exactamente!! A forma melhor de escravizar um povo não é pela força, mas levar o povo a aceitar isso... foi o que constantino percebeu com o império romano... entendeu que uma forma de perpétuar o império foi através da instituição católica...

De Faust Von Goethe a 12.06.2012 às 10:53

Já dizia o ditado: Enquanto os bizantinos discutiam o sexo dos anjos, as tropas de Constantino posicionavam-se às portas de Constantinopola.

De dorabella a 12.06.2012 às 11:47

Passando para os dias de hj: enquanto que os tugas discutem futebol, a elite faz a porcaria... com papas e bolos enganam-se os tolos!

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