O Ouriço © 2012 - 2015 | Powered by SAPO Blogs | Design by Teresa Alves
Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Blogosfera que Pica
Mendo Henriques 11 Set 18
DECLARAÇÃO - O ESPÍRITO DE MIRANDA DO CORVO
Com o objetivo de articular a sociedade civil através da criação de sinergias entre movimentos cívicos, os representantes de 18 destes grupos estiveram reunidos, em Miranda do Corvo, no domingo, dia 13 de Janeiro de 2013, naquele que foi o 1º Encontro Informal de Movimentos Cívicos.
Suportado pela experiência e anos de trabalho no terreno de associações como: o IDP - Instituto da Democracia Portuguesa; o MIC – Movimento Ideais do Centro; a TIAC - Transparência e Integridade, e da Plataforma Ativa da Sociedade Civil (PASC), presente enquanto observadora, o espírito de Miranda do Corvo juntou associações, movimentos e grupos de pressão e de causas que decidiram assumir, tomando nas suas mãos, o processo conducente ao aprofundamento da democracia participativa.
A criação de sinergias entre estas estruturas foi levada a cabo, neste I Encontro, através de um debate muito participado e posteriormente aprofundado em grupos de trabalho específicos sobre 3 grandes pilares: “ética e anticorrupção”; “dívida pública e alternativas para a alavancagem da economia” e “revisão de Lei Eleitoral”.
Em jeito de súmula:
a) O grupo da ética e anticorrupção traçou as linhas de força que permitirão a criação e promoção pública de ferramentas de informação legal por iniciativa dos cidadãos. Focou a importância do Princípio da Separação dos Poderes, exigindo a despolitização dos tribunais de forma que estes atuem com a maior transparência. Considerou fundamental a criação imediata de um documento/contrato vinculativo que permita de forma transparente e célere a responsabilização criminal dos detentores de cargos públicos. Considerou fundamental que seja exigido por parte dos cidadãos, através de iniciativas a identificar, o acionar imediato de mecanismos legislativos que levem o Estado a ser ressarcido dos prejuízos causados pela alienação de bens adquiridos através de atos de corrupção, favorecimento ilícito e gestão danosa. Considerou fundamental identificar mecanismos que permitam aos cidadãos exigir um julgamento prioritário e o ressarcimento do Estado e dos Cidadãos em casos específicos como o do BPN. Foi igualmente considerado como urgente a criação de uma Carta de Ética para os detentores de cargos públicos como forma de autorregulação.
b) O grupo que se debruçou sobre a divida pública considera importante que se desenhem propostas alternativas para a crise da dívida soberana portuguesa a partir da determinação do que é divida legitima, ilegítima e odiosa, separando de forma clara o que são custos financeiros, custos absorvidos pela corrupção e empréstimos resultantes dos fundos de coesão. Propõe uma auditoria exaustiva que seja tornada pública e que dela se retirem todas as consequências e que em todas as circunstâncias haja transparência na informação disponibilizada publicamente porquanto se encontram inúmeras disparidades entre o discurso político e a realidade que vivemos. Considera que urge assumir como prioritário o Emprego e uma Justa Distribuição da Riqueza como fatores centrais para ultrapassar a crise em detrimento duma perspectiva estritamente financeira, iniciando-se o processo de desendividamento de famílias e das empresas recorrendo ao valor ainda não utilizado para o financiamento da banca. Propõe a criação de mecanismos de financiamento social para as famílias e as empresas e um rigoroso controlo do sistema bancário bem como legislação que defina com clareza as incompatibilidades no que se refere aos detentores de cargos públicos. Considera urgente ponderar a afetação fiscal ao desenvolvimento tecnológico em detrimento do imposto induzido ao fator trabalho para sustentação da segurança social e uma profunda revisão fiscal criando diferentes níveis de taxação em função dos rendimentos de forma justa e equitativa.
c) O grupo de trabalho da revisão constitucional, perante a revolta pela forma como os partidos têm representado o interesse nacional e pela desilusão pela forma como os cidadãos são representados no Parlamento, exigem a revisão da Lei Eleitoral e a revisão constitucional que esta possa vir a ter. Foi apresentada a exigência de uma nova intermediação da vontade política, nomeadamente, através da participação de candidaturas independentes nas listas de todos os atos eleitorais, e da modificação do sistema eleitoral por forma a que a representação partidária seja moralizada e colocada ao serviço da povo, visando melhorar o regime democrático. Foi sugerido que as pessoas componentes dos movimentos cívicos se organizem, com um forte e sério compromisso e disponibilidade pessoal de cada um com vista a exigir ao poder legislativo a modificação da Lei Eleitoral que termine com os atuais bloqueios à intervenção política das pessoas singulares.
Conforme acima enunciado, os movimentos presentes neste Encontro defendem perante os órgãos de soberania o seguinte:
1. Um aprofundamento da democracia participativa, conforme as propostas acima enunciadas;
2. Maior participação nas Consultas Públicas da União Europeia;
3. Diminuição das despesas da administração pública e do aparelho político, com salvaguarda das funções Sociais Estado;
4. A criminalização dos responsáveis políticos e públicos por atos de gestão danosa;
5. Revisão das cláusulas odiosas dos contratos das PPP’s;
6. Conclusão de equipamentos essenciais ao desenvolvimento regional, tal como seja a ligação ferroviária Coimbra, Miranda, Lousã, Góis/ Metro Mondego;
7. Um novo paradigma de financiamento da Segurança Social decorrente da faturação das empresas e não do número de trabalhadores;
8. Criação de um fundo financeiro a fim de promover o desendividamento das famílias portuguesas;
9. Auditoria pública ao endividamento nacional e local;
10. Compra da dívida soberana pelo BCE;
11. Reforço do Orçamento Europeu para o Investimento;
12. Regulação do sistema bancário e das transações financeiras.
Os movimentos presentes comprometem-se a continuar estas tarefas e insistir nestas exigências, segundo o espírito de Miranda do Corvo, de diálogo entre estruturas.
Miranda do Corvo, 13 de Janeiro de 2013
Os Signatários presentes no encontro: Aglutinadores de Consciências (AC); Democracia Direta Para Portugal (DDPP); ILC - Democracia Participativa (ILC); Instituto da Democracia Portuguesa (IDP); Mais Democracia (+D); Movimento Cívico Coimbra, Góis, Lousã e Miranda (MCCGLM); Movimento Cívico por Olhão (MCO); Movimento de Cidadãos pela Dignidade (MCD); Movimento Ideais do Centro (MIC); Movimento Partido do Norte (MPN); Movimento Revolução Branca (MRB); Movin - Cidadãos em Movimento (MovIn); Nova Governação (NG); Novo Rumo (NR); Novos Paradigmas (NP); Plataforma Democrática do Povo (PDP); Rede Social + (RS+); Transparência e Integridade, Associação Cívica (TIAC).
A Coordenadora da PASC, presente com o estatuto de observadora, tendo participado ativamente nos trabalhos, revê-se na Declaração “O ESPIRITO DE MIRANDA DO CORVO”, comprometendo-se a divulgá-la junto das 30 associações que a compõem e a procurar o suporte sinérgico para os pontos identificados.
Mendo Henriques 4 Set 18
Diário Romeno 18 a 24 de junho de 2018
Aos meus amigos Bogdan Duca, Ioan Dura, Dan Simbotin, Cornelia Gasparel e Florina Hagara
A cidade portuária romena de Constanza está na encruzilhada de civilizações. Na Antiguidade a Tomis dos romanos foi o local de exílio do poeta Ovídio, sendo um dos focos do Ponto Euxino (o mar hospitaleiro) dos Gregos. A história antiga, medieval e moderna pela qual passou deixou-a bem situada na atualidade para ser um ponto de encontro de experiências culturais, nela se mantendo minorias turcas e judaicas no seio da população cristã ortodoxa.
A série de conferencias levadas a cabo pela Universidade Ovídio com o apoio do arcepiscopado de Constanza desde 2015 e organizadas pelo professor Ioan Dura e sua equipa são assim um momento de reconhecimento do elemento dialógico que está na génese da cidade e da região do Dobrudja, em geral.
A 4ª conferencia em junho de 2018 sob o titulo de "Identity & Alterity Religion in Global Society" destacou que a filosofia e a teologia contemporâneas ganham muito com a abertura de um pensamento que não se deixa encerrar num sujeito finito nem infinito de discurso, antes procura a relação entre ambos.
Os participantes de diversas especialidades filosóficas, vindos de Europa, América, Ásia, Rússia, cristãos de varias confissões e islâmicos, alguns deles sacerdotes, puderam assim partilhar o pensamento dialógico com diversidade suficiente e mesmo multiplicidade de posições dentro de cada região. Os fenómenos culturais da religião foram compreendidos sem os obstáculos habituais do fideísmo e cientismo, ou seja: falou-se e viveu-se da experiência humana de participação na alteridade divina, reconhecida e narrada como genuína seja qual a sua verdade final, sem se cair no sentido corrente de religião como experiência subjetiva de fé ou objeto de estudos culturais.
Esta convicção afirmou-se em horizontes culturais distintos e com a possibilidade de fundir horizontes. Vimos como a cultura filipina tem a noção de kapwa, que significa reciprocidade nas relações; na Índia as experiências das minorias católicas são importantes. Os participantes russos destacaram a noção de comunidade (sobornyi). Eu destaquei a importância das religiões escatológicas, em particular o cristianismo, em promover a visão da democracia; outros conferencistas falaram de comunidade face às ameaças dos nacionalismos étnicos, sofrimentos imerecidos e das tecnologias não dominadas.
Mendo Henriques 22 Ago 18
O Papa Francisco e a chanceler querem um globalismo mais "humanizado".
Angela Merkel é chanceler desde 2005, contra várias reações. Para os inimigos, Merkel é uma líder tecnocrática e globalista sem contacto com as preocupações das pessoas comuns, e que impõe medidas de austeridade aos países mais fracos e mina as culturas nacionais através do incentivo à migração em massa.
Esta é a posição do primeiro-ministro da Hungria, da direita protestante, Viktor Orbán,e que representa os estados-nação que lutam por culturas tradicionais e independência económica.
Merkel é defensora da solidariedade e da dignidade humana contra os populistas, e o Papa Francisco encorajou-a a lutar por acordos internacionais, incluindo o acordo de Paris.
O Santo Padre admira Merkel porque está convicto de que ela não é a globalista sinistra que os críticos apregoam e tem o mesmo objetivo do Vaticano : promover uma forma mais humanizada de globalização.
A plataforma política de Merkel (CDU), foi fundada na Alemanha Ocidental após a Segunda Guerra Mundial, unindo católicos e protestantes na defesa dos direitos humanos e contra os horrores totalitários do Terceiro Reich.
Os políticos democratas cristãos do pós-guerra, sob a influência de Jacques Maritain, acreditavam nas democracias pluralistas, baseadas em consenso sobre a lei natural, a com a ajuda da compreensão cristã da pessoa. A paz seria promovida pela interdependência económica e social. Tais idéias cresceram no Concílio Vaticano II, sendo o Papa Paulo VI, um admirador de Maritain.
Em 2010, Merkel explicou as três raízes de seu partido; defender a liberdade e a paz por meios militares; promover a economia de mercado; promover a “herança social cristã” de tratar cada ser humano como um igual filho de Deus.
Antes da reunificação da Alemanha em 1990, a CDU era dominada pela tradição católica do sudoeste. A reunificação significou que a CDU se tornou mais nortenha e protestante. Quando Merkel, filha de um pastor protestante que cresceu na Alemanha Oriental, se tornou chefe da CDU, a velha guarda protestou contra o "protestantismo prussiano" das burocracias centralizadas e tecnocráticas.
Merkel revelou-se igual a si mesma na crise dos refugiados. É absurda a acusação de que Merkel planeou um influxo massivo de migrantes através da rota dos Balcãs. Mesmo o seu biógrafo crítico, Robin Alexander, em "Die Getriebenen", diz que Merkel foi impelida pelas circunstâncias e pelo dever.
Enfrentou o medo que os migrantes despertaram com um apelo às convicções morais cristãs. Os recém-chegados eram filhos de Deus. Quanto aos temores de que o Islão destruísse a cultura cristã da Europa, Merkel respondeu “Quem está preocupado com a preservação da cultura cristã ...vá à Igreja e leia a Bíblia.” Excelente conselho.
O conselho é bom. Mas uma das razões pelas quais a prática cristã caiu na Europa do pós-guerra é sem dúvida o ideal pluralista e neutro de democracia que os democratas-cristãos promoveram.
Maritain pensava que numa democracia pluralista o consenso sobre os direitos humanos levaria a um fortalecimento da religião. Mas não foi assim. As sociedades sem Cristo tornaram-se seculares e a moral sexual divergiu dos ensinamentos da Igreja. Os partidos políticos como o CDU, têm respondido ao contínuo enfraquecimento de seu próprio compromisso com os princípios morais cristãos.
O Papa Francisco admira em Merkel o seu compromisso com a visão pluralista do desenvolvimento global que a Santa Sé promove desde o Concílio Vaticano II, em nome da paz, cooperação e prosperidade.
Mas há o risco de o pluralismo levar à marginalização do cristianismo, sobretudo quando o ensino moral católico entra em conflito com atitudes morais seculares.
Após o recente sínodo da família, Francisco tentou superar essa divergência com a Amoris Leetitia. Mas o testemunho da Igreja é uma coisa e Merkel sempre foi uma pragmática e perita em se acomodar a mudanças na opinião pública. Antes das eleições de 2017, aceitou a lei do casamento homossexual (mesmo que tenha votado contra): e assim tirou o tapete debaixo dos pés da oposição.
O Papa Francisco sabe muito bem o que é uma questão secundária e o que deve ser feito em nome um futuro comum .
Mendo Henriques 15 Ago 18
https://www.youtube.com/watch?v=fkAu2PPC3tA
Mendo Henriques 15 Ago 18
Trata-se de uma contribuição para sublinhar que a promessa da política deve oferecer a autenticidade da sua relação com a execução.
Adriano Moreira
O fenómeno político está na confluência da liberdade, da responsabilidade e da igual dignidade, consideração e respeito da pessoa humana. (...) Mendo Castro Henriques compreende-o bem, fazendo deste pensamento base da sua atitude cívica e pedagógica.
Guilherme d´Oliveira Martins
Fazer política é cuidar do bem comum. A autenticidade deste cuidado está na permanente tensão entre as promessas e a sua efetiva concretização. No encontro da Academia Pontifícia para a Vida, o Papa Francisco pediu políticas mais humanas sem promessas ilusórias de bem-estar.
Eugénio Fonseca
Neste livro, Mendo Castro Henriques recorda-nos o principal de toda a atividade humana: a Promessa auroral de que o homem existe para o cumprimento de uma redenção. E que esta se concretiza por via de uma política do Bem Comum fundada num reino de Justiça.
Miguel Real
Nietzsche definiu o homem como um animal capaz de prometer. Este livro de Mendo Castro Henriques oferece uma fascinante introdução a esta atividade e aos desafios que ela enfrenta no mundo globalizado do início do terceiro milénio.
Carlos Morujão
Mendo Henriques 13 Ago 18
O Brexit nunca foi inevitável, como cada vez é mais evidente.
De acordo com sondagem, dos 632 distritos eleitorais no Reino Unido, ...341 têm agora uma maioria absoluta do FICAR, quando eram 229 em 2016..
O eleitorado britânico está a mudar de opinião após verificar que iria pagar em qualidade de vida e em independência a saída da União Europeia. Os britânicos não são eunucos que se deixam arrastar pelas vozes da má classe política.
Os britânicos têm a queixar-se de uma classe política que, por motivos diferentes, nunca lhes explicou as consequências do Brexit: o nacionalismo requentado de Nigel Farage, o oportunismo de Boris Johnson e Michael Gove, as trapalhadas globalistas de Cameron; as trapalhadas marxistas de Jeremy Corbin: e a ambição destruidora da senhora May combinaram-se para enganar os britânicos que agora querem fugir do pesadelo de isolamento em que a sr. May os colocou
Após dois anos de negociações que estão num impasse, a única saída será reverter o Brexit em novo referendo ou em voto do Parlamento. Apesar de tudo, os britânicos são uma casa da democracia.
Mendo Henriques 22 Abr 16
O mundo político desembocou no nível da banda desenhada. Os EUA têm no Donald Trump um personagem típico da Marvel. Na Inglaterra, como se não bastasse o país já estar dividido, temos um governo conservador com uma perna de cada lado do Brexit.
Em França, tem um presidente que só faz gaffes, tendo por oposição a Miss França da Frente Nacional com contas no Panamá. Em Espanha, após cinco meses de impasse pós-eleitoral, vão para eleições que deverão repetir o resultado.
No Brasil, vão substituir uma presidente que permitiu a corrupção por um um vice-presidente que é corrupto. No Banco Central Europeu, um pateta da Goldman Sachs enterra o que resta do projecto europeu em toneladas de notas de euro. No Médio Oriente, temos doidos à solta que baste.
O sistema financeiro internacional é uma verdadeira anedota, ou não fosse feito para enriquecer 1% da população mundial a expensas dos restantes 99%. A Coreia do Norte vai para o quinto ensaio nuclear; e há lá coisa mais surreal do que eliminar a humanidade como quem apaga um desenho com borracha?
É aqui que entra a teoria política do Bolinha, que muito li em miúdo na versão brasileira de John Stanley. Ele é aquele garoto gordinho que preside ao Clube dos Meninos de que fazem parte o Carequinha, o Juca e o Zeca. O clube tem como principal lema “Menina não entra”. Já diz muito.
O Bolinha é um caso psicanalítico: deseja ser apreciado, mas nunca pelo que ele é, e busca aprovação tentando ser outro, fugindo às origens. Mas, é claro, nunca consegue. Essa total inautenticidade faz dele uma boa imagem do Europeu atual, chorão, comilão e rezingão.
O seu inimigo principal é a “Turma da zona norte”, uma mistura de garotos talibãs, Daesh e sauditas que se entretém a dar pancada, e que em vez de dinheiro e petróleo, têm músculo e muita força, pelo que sovam a turma do Bolinha, caso a Luluzinha não aparecer.
E depois vem a teoria da conspiração. No mundo das percepções políticas, como no nível da BD. Entra o Bolinha detective a procurar coisas desaparecidas da casa da Luluzinha. Antes de começar a investigação, disfarçado de Aranha – “O Aranha ataca novamente” – declara solenemente que a culpa é do “seu Jorge”, o pai de Luluzinha.
Fantástico. Ter já a resposta antes do inquérito. E não é que, invariavelmente o culpado é o “seu Jorge”, embora por outros motivos do que as congeminações malucas do Bolinha, sobretudo interessado em atacar o frigorífico da casa?
A Luluzinha. Inteligente e teimosa. A classe feminina emergente, criada por uma mulher. Muito mais esperta que o amigo Bolinha e a sua turma. Mas ela gosta do Bolinha.
Quando não está a brincar ou a lutar com os garotos, Luluzinha toma chá e conta histórias à Aninhas e ao Alvinho. São histórias cheias de moral em que ela é a heroína, a “pobre menininha”. Sem dúvida que a Luluzinha é a América, que chega na hora certa para salvar o Bolinha.
Nas estórias, ela tem que ganhar duramente a vida, apesar das bruxas. Como é muito esperta, vence a dupla debruxas Alcéia e sua sobrinha Meméia que se quer aproveitar da “Pobre menininha” mas que não são assim tão espertas, tipo presidente da Rússia e presidente da China.
E a “Pobre Menininha” ganha sempre no final. O problema é que o Alvinho nunca entende a moral da história. E é preciso recomeçar a Guerra Fria.
Não esquecer o Plínio, o George Soros da série, que se considera bom demais para andar com a turma do Bolinha, apesar de estar sempre no meio. Às vezes, namora a Glória, outras vezes a Luluzinha e em ambos os casos torna-se inimigo do Bolinha que também gosta de ambas.A vida é dura nas revistas de BD.
O mundo visto pelo Bolinha é como a espiral recessiva do prof. Cavaco. Quanto mais o Bolinha se sente ameaçado por falsos amigos, inimigos, pais e autoridades, pior fica. E quanto pior fica, mais inimigos pressente.
É um anti-herói – como o Charlie Brown de Schulz ou o “Pica-Pau” também de John Stanley. Simpatizar com ele é fácil. Mas o Bolinha é o seu pior inimigo, e o ego excessivo é a sua perdição. Como nos políticos.
Eu sou um admirador da BD, da escola franco-belga, da Dell, da Marvel e até comprei pela primeira vez a Visão, só para ter o suplemento gratuito. Mas cada macaco no seu galho.
Num mundo que desceu ao patamar da banda desenhada, são poucos os estadistas e personalidades que trazem consigo a gravidade da vida; são poucos os que lutam a contra aquelas coisas com que não se brinca – a morte, a exclusão, a miséria, a violência, a corrupção.
São muito poucos. Esses não cabem nas tiras de BD nem para eles serve a teoria política do Bolinha. Mas afinal, quem lhes presta atenção?
Artur de Oliveira 7 Abr 16
Aguardo as bofetedas...
Artur de Oliveira 1 Abr 16
Mendo Henriques 16 Mar 16
Nos três dias de tomada de posse do nosso quinto Presidente da República da democracia portuguesa “Houve uma coisa simplesmente bela…” como diz o poeta.
Foi quando na tarde do dia 9, após a tomada de posse na Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa participou numa cerimónia inter-religiosa na Mesquita Central de Lisboa.
Aí destacou a “consagração da liberdade religiosa, que supõe a liberdade de não crer”. E o que mais disse sobre diálogo, entendimento e compreensão recíproca, sem negar diferenças, mostra que acredita numa coisa: confissão religiosa e ausência de religião são para serem partilhadas no espaço público e não só em espaços privados.
Mas onde está o benefício destas boas palavras? Esse é que é o ponto. Como é que o novo presidente enfrentou aquele preguiçoso anti-clericalismo português que se manifesta desde os tempos homéricos de Camilo, Eça, Brandão e Aquilino até à maldição hodierna sobre “as religiões” como provocadoras de guerra?
Marcelo quis mostrar que, como sociedade, estamos a virar uma página porque aprendemos a olhar para os outros sem os querer reduzir a nós. Ecumenismo é aproximação entre as Igrejas cristãs para ultrapassar divisões. Diálogo inter-religioso é relação das Igrejas com as outras religiões e com os que não têm nenhuma.
Aparte estas distinções, Marcelo apelou a “que os próximos cinco anos sejam vividos sob o signo da mesma paz, justiça e fraternidade” evocados pela reunião.
Na celebração inter-religiosa estiveram em pé de igualdade as várias confissões cristãs – católicos, evangélicos, adventistas e outros – seja qual for a sua expressão e peso em Portugal – e muçulmanos, judeus e budistas. Na realidade, quase duas dezenas de Igrejas e os sem religião nenhuma, ateus “graças a Deus”. Em pé de igualdade, por que o Estado é só um.
Podem ser várias as leituras políticas desta cerimónia. Uma delas é que o novo Presidente da República não quer que os refugiados muçulmanos do Médio Oriente que têm chegado à Europa sejam “os novos judeus”, alvos de perseguições.
Também é bastante claro que apela contra os ataques terroristas na Europa e no mundo. Até se pode pensar que a sua mente florentina e criativa escolheu um templo muçulmano para dar uma mensagem cristã.
Tudo bem. Mas isso fica em segundo plano face às palavras “breves, mas sentidas” de Marcelo de que “Portugal deve muita da sua grandeza secular ao seu espírito ecuménico.”
Essa é a coisa simplesmente bela: ter religião ou não ter religião não é assunto para ser tratado de modo clandestino: é para ser partilhado na praça pública.
Divisões, já temos que baste no nosso país.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.