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Blogosfera que Pica
Francisco Cunha Rêgo 12 Fev 12
Ontem foram 300 mil pessoas dispostas a manifestar-se sobre as condições miseráveis de vida, que muitos sofrem desnecessáriamente e sem culpa nenhuma. Não conheço trabalhador por conta de outrém que, para ter um empréstimo, não tenha apresentado IRS actualizado e outras garantias reais que as Instituições exigiam como suficientes. Com raríssimas excepções, não assaltaram ninguém para ter casa, ou carro, ou..... Enquanto grandes jogadas financeiras foram feitas com recurso a expedientes, como colecções de moedas de valor duvidoso, que permitiram enriquecer mesmo sem quase nada fazer ou arriscar. Num tempo em que já não se pode dizer que é apenas o Partido Comunista a única origem dos protestos, corro o risco de ser herege dizendo que, hoje, o PCP é um dos poucos defensores lúcidos do capitalismo, ao defender que não é com ordenados de pobreza e pensões de miséria que se pode falar em vida digna, e que é necessário apoiar, não só com dinheiro mas com uma Política, os agricultores, os pescadores e a Indústria. É que estas condições afectam também a economia de mercado, onde o lucro faz mover tudo. Para além do trabalho, é o consumo que sustenta as empresas e os impostos. Excepto em regimes autoritários.
A Alemanha tem alguma razão nas preocupações, mas não nas receitas, pois os desmandos Estado/Empresas dos ultimos anos foram maus e vão custar a recuperar, por falta de rentabilidade, como o futuro já não esconde. A separação entre Estado e Igreja, exigida no passado por ser nefasta a ambas instituições, hoje tem equivalência na necessidade de separar Estado e sector privado. Os males da sua fusão estão à vista. Seria melhor ter, como nos EUA, uma politica clara para os lóbis e uma legislação forte, com a Justiça a funcionar, contra os monopólios que esmagam a livre concorrência.
Fazer ajustes de tesouraria apenas paga as despesas correntes. É preciso olhar para o horizonte e assumir os riscos de decidir o que maturadamente vemos que vai melhorar agora a vida das pessoas, que são quem faz as Instituições. No futuro, tudo o resto ficará de fora. A pobreza tem destas coisas. Não vai haver margem para os erros grandes que se fizeram, pois o risco é de morte. E o pior ainda está para vir. O débito só se reduz com crescimento económico, algo que ainda não acontece. A produtividade tem de andar de mão dada com investimento, para não se traduzir em nova escravatura. Para isso o Estado só deveria cortar no Orçamento depois que o sector privado, incluindo a Banca, fizesse os seus cortes de ajustamento e tivesse condições para crescer. Se os pratos da balança descem os dois ao mesmo tempo, então estamos a afundar. Ontem houve 300 mil razões para ver isso.
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