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O Ouriço

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Pneu velho é diesel

Jack Soifer 17 Abr 12

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A partir de pneus velhos, plástico reciclado ou xisto, já se faz diesel marítimo por 30 dólares o barril. Um cracker catalítico parte a ligação entre as cadeias de hidrocarbonetos de petróleo em materiais a reciclar, o que produz um diesel com baixo teor de enxofre. É a despolimerização térmica.

As suecas Ragnsells, maior recicladora de pneus da Europa, fornece-os, a Cassandra Oil transforma e a Nordkalk usa o óleo. Obtêm 4,5 kg de óleo com 10 kg de pneus velhos. Um quarto torna--se carvão, um décimo gás. O processo leva 15 minutos. Se usar plástico como matéria-prima, tudo resulta em óleo, pois plástico é só hidrocarbonetos.

Este, mesmo sujo ou contaminado, é processado. Mesmo o óleo pesado, fuel ou resíduo de refinaria, é reciclado.

Até a sucata eletrónica transforma-se em diesel, gás e metais. De cada tonelada obtém-se 700 kg de óleo, 200 de cobre, 0,5 de prata e 40 gramas de ouro.

A Oil Cassandra investiu num reator catalítico de 1500 kW. Ela pretende fabricá-los para vender a outros.

O fundador, Anders Olsson, foi o agente da Petrobras no Oriente Médio. Ele trabalhou na recuperação dos lagos de óleo pesado no Médio Oriente. Em 2010, patenteou a tecnologia baseada em "despolimerização térmica por fricção em leito fluidizado."

Este é só um exemplo de como, na Europa do Norte, os desperdícios são aproveitados. E como as grandes empresas se abrem às inovações das pequenas, para sinergias onde a sociedade toda gasta menos. É o PIB a cair e o povo a lucrar com menos poluição e mais inovação. Algo para a Troika aprender?

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O Google e a Apple (Ipad), não são diferentes na sua relação de apropriação ou comercialização de conteúdos jornalísticos dos media, do Rei de Cochim (segundo Camões), que com os seus Califas (e mais tarde Sandokan, segundo Emílio Salgari), organizava as frotas de barcos chineses, filipinos, indonésios e árabes, para transportar mercadorias de que não era proprietário, assegurando a logística, plataforma ou suporte diremos hoje, e a continuidade do meio quando o mar findava e os camelos e as carroças tomavam o lugar das velas, sempre negociando com os poderes locais - os isps ou websites locais – a protecção da passagem das mercadorias sob sua protecção que fluíam pelos seus canais.

 

 

 

Chegadas à Europa, as mercadorias que restavam eram de novo tomadas por novos sistemas de distribuição (venezianos e genoveses) e chegavam ao consumo dos poucos europeus capazes de pagar todo este sistema logístico.

 

 

 

Assim acontece com os conteúdos dos media quando, depois de passarem pelos canais do Google o do Ipad (loja itunes), o que resta para os editores (e para os jornalistas) são escassas migalhas, comparadas com o valor e o custo da produção da noticia e dos riscos de toda a natureza inerentes à produção de conteúdos jornalísticos editados e responsáveis.

 

 

 

Com a chegada de Vasco da Gama – e dos portugueses – à Índia o Rei/Sultão percebeu que a oferta era outra, directamente do produtor para o consumidor (através de Lisboa ou Antuérpia), com um único risco, a navegação, mesmo assim bem apoiada em portos ao longo da rota, protegidos directamente pelos portugueses. E os locais de embarque passaram a ser operações mistas em que o mercador mantinha uma relação comercial directa com o transportador, podendo até seguir a bordo com os seus produtos (ou serviços quando era o próprio a aplicar os bens transportados). Sim, a verdade é que cada viagem era uma empresa privada organizada por um empreendedor, que arriscava o investimento na armação da esquadra, ficando o rei com os impostos ou o preço da segurança armada e a Igreja com a oportunidade da fé.

 

 

 

O algoritmo desta bem montada excursão ao volta do cabo era assim um misto de ciência, capacidade organizativa, substrato cultural e ideológico e estrategtia de sobrevivência que os anos transformaram também num modelo de administração que Albuquerque desenvolveu, permitindo que o carácter aventureiro se transformasse em acordos respeitados, umas vezes diplomaticamente, outras militarmente e com um aliado sempre presente, a Igreja Católica o maior network da época.

 

 

 

Todos conhecemos que Portugal não conseguiu aguentar a liderança deste modelo quando potências mais ricas, mais estruturadas e mais desenvolvidas entraram na concorrência. Assim nasdeu e se mantém o Império Britânico.

 

 

 

Mas Portugal lucrou com a empresa, toda a organização do comércio da África ao Sul do Equador, o desenvolvimento esplendoroso do comércio, da ciência e das artes no seu rectângulo europeu, o seu lugar à mesa da política da Igreja Católica e dos Impérios Europeus até ser brindado com o ultimato de 1891. E o Brasil, sem Gama e Albuquerque (e o Padre António Vieira, sejamos lúcidos), não poderiamos dizer hoje que somos a 4ª ou 5ª língua mais falada no mundo (com um incalculável valor acrescentado nos seus conteúdos).

 

 

 

Será que a solução para os editores de media nas suas contendas com o Google e a Apple passará por encontrarmos os nossos Gamas e Albuquerques capazes de interpretarem no século XXI uma estratégia semelhante à que criou o conceito em que o Google e a Apple se desenvolveram?

 

 

 

Quase já não tenho dúvidas sobre esta visão da solução, solução indispensável para que os conteúdos jornalísticos editados e reponsaveis, possam manter a sua promessa de sustento da Democracia, confiança dos cidadãos e observadores da vida política, social, económica e cultural, em suma, baluartes do desenvolvimento e da paz, como os portugueses acabaram por ser há 500 anos quando iniciaram a visão global do mundo.

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O erro de Gaspar

Faust Von Goethe 17 Abr 12

 

Nos anos 70, o jovem economista Arthur Laffer desenhou curva parabólica num guardanapo de papel de restaurante, para explicar a correlação entre taxas de impostos (eixo horizontal) e receita do estado (eixo vertical). Esta pode ser interpretada do seguinte modo:

 

A uma taxa de 0% de impostos, a receita do Estado é nula; para uma taxa de impostos a 100%, o efeito seria o mesmo, pois o aumento compulviso desta taxa tenha como causas directas, a fuga aos impostos, à omissão de dividendos, já para não falar das práticas correntes de fraude fiscal assim como da corrida aos subsídios de desemprego na segurança social. Acresce que, para uma taxa de colecta de 100%, o investimento replicativo e auto-regenarativo na economia seria nulo.

 

Segundo Laffer, o caminho para atingir uma colecta mais elevada-pico da curva-corresponde à harmonização do investimento dos privados face aos seus interesses antagónicos e à taxa de imposto cobrada. Para se atingir este pico (ou ponto de equilíbrio), é necessário um mecanismo de política monetária que permitam, se necessário, a desvalorização cambial.

 

Quando em Portugal, na impossibilidade de aplicar a desvalorização cambial, se pretende aplicar uma desvalorização dos custos do trabalho (redução de cerca 20% do salários da função pública, como defenderam economistas como Ernâni Lopes, Vitor Bento e Paul Krugman), ao mesmo tempo que se aumenta impostos, estas duas medidas anulam-se entre si.

 

Daqui podemos concluir, de forma intuitiva, tendo como base dos números recentes da execução orçamental, que para além de uma subida das taxas de imposto sobre o consumo, houve uma redução de parte dos salários confiscados a funcionários públicos. Pictoricamente, esta situação situa-se à direita da curva de Laffer  (ponto B da figura), o significa que a nossa economia atingiu a taxa maximal de carga fiscal.

 

Para fazer face a esta entrave, poderia adoptar-se uma solução que passasse pelo corte dos salários, mantendo grande parte dos impostos na taxa em vigor, reduzindo alguns deles, tendo como meta o estímulo do consumo interno assim como o investimento por parte dos privados. 

 

Uma outra solução, poderia passar por adoptar uma política de investimento público, propiciando uma harmonização entre este e o aumento dívida externa, direccionado para bens transaccionáveis, que potenciasse a criação de empregos.

 

Adenda: Como complemento, recomendo uma leitura ao post recente de Robert Reich-secretário de estado de Bill Clinton- para enquadrarem no âmbito da política económica dos Estados Unidos, assim como o artigo recente de Ricardo Reis em Dinheiro Vivo (também sobre a curva de Laffer).

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Crise Académica de 1969

Faust Von Goethe 17 Abr 12

Há momentos que passam. Há outros que fazem a História. Entre 1965 e 1968 a Associação Académica de Coimbra foi liderada por uma Comissão Administrativa nomeada pelo Governo. Durante essa fase os estudantes foram impedidos de participar no Senado e Assembleia da Universidade de Coimbra.

Após um abaixo-assinado, subscrito por 2500 estudantes pedindo eleições livres na AAC, realizaram-se novamente eleições para a Académica em Fevereiro de 69. Deste acto eleitoral saiu vencedora a lista do Conselho das Repúblicas, com 75% dos votos.

Um mês mais tarde a DG/AAC é convidada para a cerimónia de inauguração do edifício das Matemáticas, não só aceitando o convite, como manifestando a intenção de interferir na referida cerimónia.

Essa pretensão, comunicada ao Reitor de então, foi liminarmente recusada já que "O Reitor, que iria discursar, já representava a Universidade" e a intenção dos estudantes falarem prejudicaria as "prescrições protocolares".

Na manhã de 17 de Abril de 1969, em frente ao Edifício das Matemáticas, milhares de estudantes mostravam palavras de ordem "Ensino para todos", "Estudantes no Governo da Universidade", "Exigimos diálogo".

No interior do Edifício, Alberto Martins, Presidente da DG/AAC pede a palavra ao Presidente da República, Américo Tomás "Sua Ex.ª, Senhor Presidente da República, dá-me licença que use da palavra nesta cerimónia em nome dos estudantes da Universidade de Coimbra?" A palavra foi-lhe negada e a cerimónia terminada abruptamente.

Nessa mesma noite, Alberto Martins é detido à porta da Associação Académica de Coimbra. Centenas de estudantes são nessa noite alvo de uma carga policial à frente da PIDE, para onde se haviam mobilizado em solidariedade para com Alberto Martins. Vários episódios de luta, unidade e solidariedade se seguiram por parte dos estudantes da Universidade de Coimbra. O Governo respondia com mais censura, opressão e perseguição aos desalinhados do regime.

Neste dia, se calhar como nunca no passado, a Academia de Coimbra soube dizer não perante um regime e uma sociedade injustas e desiguais. Talvez aqui, tenha sido o início do fim do regime.

Em resposta a todo este clima, a Academia reúne em Assembleia Magna, no ginásio da AAC com a presença de milhares de estudantes e dos professores Orlando de Carvalho e Paulo Quintela. Assim, é decretado o luto académico sob a forma de greve às aulas, transformadas em debate sobre os problemas dos departamentos e das Faculdades da Universidade de Coimbra, bem como do País.

No dia 30 de Abril, numa comunicação televisiva, o Ministro da Educação Nacional, José Hermano Saraiva, acusava os estudantes de desrespeito, insultos ao Chefe de Estado e do crime de sediação. Conclui, a dizer "que a ordem será restabelecida em Coimbra".

Neste contexto, cerca de 4000 estudantes marcaram presença na Assembleia Magna que se realizou no Pátio dos Gerais, no dia 1 de Maio, repudiando juntamente com o corpo docente, as afirmações do Ministro da Educação Nacional e reafirmando a convicção na construção de uma Universidade nova.

De seguida, por despacho de José Hermano Saraiva, verificava-se o encerramento antecipado da UC até ao início dos exames. Deste modo, a Assembleia de Estudantes Grelados deliberava cancelar a Queima das Fitas num acto de solidariedade para com a Academia e dirigentes associativos suspensos. "Jamais aceitaremos que a alegria se confunda com a irresponsabilidade...", dizia o comunicado.

No dia 28 de Maio, na maior Assembleia Magna da história da Academia com a presença de cerca de 6 mil estudantes, é decretada a abstenção aos exames. Foi ainda deliberada a "Operação Flor" e a "Operação Balão", em que flores e balões eram distribuídos como forma de protesto enquanto não se procedesse ao levantamento das suspensões e dos processos de inquérito, exigindo-se ainda que não fossem marcadas faltas durante o luto académico.

No início da época de exames, dia 2 de Junho, Coimbra acorda sitiada. Destacamentos da GNR, PSP e da Polícia de choque ocupam a Universidade.

No final da Taça de Portugal entre a Académica e o Benfica, no dia 22 de Junho, o jogo transformou-se em manifestação contra o regime e cerca de 35 mil comunicados foram distribuídos à sociedade civil, nos quais estavam expostas as razões da luta estudantil. Excepcionalmente, o jogo não foi transmitido pela RTP e pautou-se pela ausência do Presidente da República.

No mês de Julho, o Governo alterava a lei de adiamento da incorporação militar de modo a fazer depender da prorrogativa "o bom comportamento escolar" do estudante. Ao abrir da nova legislação, meia centena de estudantes eram chamados ao serviço militar.

A crise académica de Coimbra tinha conduzido a uma remodelação política no sector educacional do governo. O Ministro da Educação Nacional é demitido e substituído por Veiga Simão. Na Universidade de Coimbra, Gouveia Monteiro é o escolhido do novo ministro para o cargo de Reitor, numa tentativa de pacificação da situação académica. Deste modo, abria-se o caminho às reformas e democratização das estruturas universitárias que, cinco anos mais tarde, o 25 de Abril de 1974 viria consagrar.

1ª Parte
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