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Blogosfera que Pica
John Wolf 4 Mai 12
A filantropia poder‐se‐á traduzir na tomada de consciência sobre a contínua pobreza da humanidade. Esse estado de alma acompanha o enfoque dinâmico da geração de riqueza. Ou seja, a cada patamar de criação de valor corresponderá um processo de reequilíbrio ou reposicionamento, para que não assistamos a um esvaziamento do sentido de realização dos nossos objectivos. A missão consiste em devolver ou retribuir uma parte do nosso sucesso à sociedade que nos ofereceu a oportunidade para florescer ou ser bem sucedido. A prática do ideal de filantropia não depende da quantidade de riqueza previamente gerada, nem se esgota na dimensão de transmissão financeira ou material. Estará intimamente associada à ideia de igualdade de oportunidades e à assunção de que qualquer indivíduo pode desenvolver o seu maior potencial.
Subjacente à ideia de filantropia encontramos o reconhecimento de virtudes humanas no ‘ser humano desconhecido’, realizado de forma abstracta. O primeiro acto de ‘imparcialização’ a realizar em Portugal, consistirá em neutralizar os efeitos perniciosos que se manifestam na definição da condição social do indivíduo e que se associam ao nome de família, ao título académico, ao grau de riqueza ou à aparência física. Enquanto uma sociedade alicerçar a sua percepção, valoração ou classificação do indivíduo, na matriz de indicadores sociais que transcendem o mérito directo, objectivo e comensurável, estará a trair o ideal de filantropia. As relações interpessoais terão de se afastar de juízos baseados em estereótipos, que atribuem rótulos de identificação e estratificação social aos indivíduos em função do apelido, grau académico, grau de riqueza ou aparência física. Esta noção de filantropia aproxima‐se de uma expressão de inteligência social, que observa movimentos colectivos e não privilegia as assinaturas individuais. As assimetrias humanas ou sociais não serão, nesta medida, auto‐impostas ou decididas racionalmente, mas sim fruto de uma casualidade caótica que estabelece hierarquias que posteriormente são aproveitadas negativamente por uma faceta da natureza humana oportunista e pouco generosa.
A expressão ‘farinha do mesmo saco’, convertida numa expressão de índole positiva, poderia servir para ilustrar um fenómeno de nivelação social, através do qual todos os indivíduos se filiam na mesma ‘matéria existencial’ e fazem parte do mesmo grande desígnio colectivo. As tentativas de afastamento ou desresponsabilização social manifesta‐se na forma como certos indivíduos ou grupos de indivíduos reclamam para si atributos de distinção ou privilégio, e afirmam não fazer parte dos fenómenos colectivos ou tendências gerais. Esta atitude de autoproclamação é na sua essência uma expressão de antifilantropia. A filantropia, na sua concretização mais plena, representa um fenómeno de compensação pelos défices do Estado e das sociedades no seu todo, que se apresentam incapazes de implementar processos de justiça social ou económica e que não cumprem objectivos de disseminação e igualdade culturais. Caberá aos indivíduos procurar a independência em relação a comportamentos de paternidade do Estado e contribuir para a construção directa da sociedade em que se inserem.
O Estado e os governos pautam o seu comportamento pela apropriação do fenómeno social, na medida em que procuram repetir as condições específicas das relações interpessoais transformando‐as em processos de massas ou de propaganda. O Estado nunca poderá ambicionar constituir‐se enquanto entidade filantrópica, porque ao reconhecer os atributos inerentes a esse estatuto confessa o seu falhanço na gestão normal dos negócios de governação. a filantropia começa por ser uma manifestação do extraordinário, um apêndice do superavit para gradualmente vir a tornar‐se prática comum. Os sucessivos governos em ‘cadeia’ são reféns do seu estado de endividamento. A actividade filantrópica desenvolvida por uma sociedade e os seus membros materializa uma condição leiga (não política), e reflecte o seu grau de desenvolvimento e entendimento do conceito de progresso ou modernidade.
Ao contrário do que possa parecer à partida, a concessão de oportunidades à sociedade ou aos seus membros, por via do processo filantrópico, não representa uma forma de delapidação a fundo perdido da riqueza acumulada. O retorno do investimento filantrópico será mensurável nas sucessivas gerações, que beneficiam de um acréscimo de oportunidades na prossecução dos seus objectivos existenciais, materiais ou não. Poderemos desenvolver o conceito de filantropia, alargando o seu âmbito para incluir um conceito que designamos por microfilantropia, na medida em que não dependerá de uma grande fortuna financeira enquanto sustento da sua realização. Cada indivíduo, tem a obrigação moral, enquanto membro de uma democracia, de participar num processo de redistribuição de oportunidades, mas convém ressalvar que não se deve confundir a concessão de ajuda com a concessão de privilégios.
A cunha, prática quotidiana do tecido social e profissional nacional contribui para a destruição dos fundamentos filantrópicos. as facilidades atribuídas a familiares, conhecidos, amigos ou membros de um mesmo círculo, encerram em si uma distorção contraproducente. Este tipo de prática inscreve‐se no domínio da troca de favores, através do qual aquele que supostamente empresta o seu apoio, esperará num momento seguinte uma acção de retribuição. Estes mecanismos de desvio comportamental resultam numa sociedade onde reina a promiscuidade e a corrupção, por mais condescendentes que queiramos ser. Enquanto dador ou na qualidade de receptor de favores, faremos sempre parte de um sistema patológico.
Ao retratarmos a realidade nacional, verificamos que a principal fundação dedicada à causa filantrópica, tem de facto uma origem exógena à cultura ou economia locais. a Fundação Calouste Gulbenkian preenche os requisitos de um importante paradigma. A ideia de que a universalidade dos princípios em causa deve prevalecer sobre qualquer interpretação baseada no nacionalismo. Também deveremos distinguir as acções de mecenato realizadas por grandes empresas dos mais distintos sectores, através das quais são dissimuladas acções de marketing com propósitos puramente económicos. estaremos nestes casos na presença de agentes que encontram nas subvenções à arte ou à cultura uma forma de reduzirem os seus encargos fiscais.
Os princípios que sustentam a filantropia materializam‐se em transferências unívocas, através das quais quem é compensado de forma exclusiva é a sociedade — construção não apropriável pela vontade de alguns. A filantropia nasce com a pobreza material, e realiza‐se com a riqueza existencial de cada um de nós. Afortunados ou não.
(secção publicada no livro Portugal Traduzido, edições Cosmos, 2008)
John Wolf 4 Mai 12
Dia 12 de Maio, entre as 15h-18h, no Centro Cultural de Moscavide, estarei ao lado de outros oradores para debater as múltiplas dimensões da criatividade e o modo como estas condicionam o desenvolvimento de um país.
Jack Soifer 4 Mai 12
Daniel Bessa, na revista da Cotec n.º18, escreveu que "a falta de concretização e transformação do potencial de inovação em resultados concretos (...) coloca Portugal no conjunto de países desperdiçadores".
A estrutura dos preços de serviços vitais, como energias, telecomunicações, estradas, transportes públicos, obras públicas, é muito diferente na Europa do Norte. Aqui tem valores similares nas peças e matérias-primas utilizadas, muito menores no custo de mão-de-obra, muito maiores com administração, advogados e outros lá classificados como "inusitados" e investigados pelo Tribunal de Contas e pelo DIAP com poder real.
Isto reduz a competitividade das PME´s, que aqui pagam mais por infraestrutura e nos produtos dos cartéis da distribuição ou produção de matérias-primas, como o ferro, materiais de construção em geral, combustíveis, condomínios em shoppings, etc.
A produtividade por hora trabalhada aqui é baixa, devido à pouca motivação do trabalhador nas empresas grandes, onde o patrão em geral ainda o trata como escravo. Já nas PME´s, a produtividade por hora é maior, mas este patrão perde uns 30% do seu tempo com a banca e burocracias, em vez de transformar a inovação, que ainda não lhe chega, em resultado concreto.
Álvaro Santos Pereira fez boas leis, mas, para surtirem resultado, é preciso pô-las em prática, e quem as trava são os cem mil militantes, hoje diretores na função pública, que justificam altos salários com inúteis papéis. Reforma estrutural não é aumentar horas de trabalho, mas preparar os cem mil para produzir no privado e impor a livre concorrência.
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