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Blogosfera que Pica
John Wolf 30 Out 12
O meu voto seguiu há dias. Procedi ao registo online na categoria de "eleitor residente no estrangeiro" e volvidos poucos dias, o meu boletim de voto chegava à minha caixa de correio electrónico. Assinei de cruz, e enviei por correio azul a decisão - a second term for Obama. Independentemente do resultado, uma coisa posso garantir, o furacão que assola os EUA é muito menos perigoso do que aquele que fustiga a Europa. A União Europeia revelou a sua linha de fractura, a clivagem norte-sul, o embate de placas tectónicas, uma discussão acesa entre Gutenberg e Júlio Iglésias. E daqui não descolamos. Há dias George Soros propunha que a Alemanha replicasse o tratamento dos EUA para com a Europa no período subsequente à II Grande Guerra. Ou seja, que um plano Marshall Alemão fosse aplicado aos países devastados pelo falhanço do projecto Europeu. Que uma espécie de soft power fosse exercida "sobre" os países periféricos. Um plano contrário à austeridade que se conhece, mas que não colocasse em causa os compromissos decorrentes da dívida, que seriam simultaneamente económico, financeiro e moral. A Alemanha, ao ser o bom da fita, decerto que granjearia os louvores dos países membros caídos em desgraça. Esta seria, concerteza, uma via alternativa. Um modo de validar o conceito de verdadeira união, uma União Centro-Periférica. Mas por que raio trago à baila as eleições Americanas? Porque nos EUA ninguém sonha em questionar o seu federalismo. Um contribuinte do Estado de Nova Jersey (que paga dos impostos mais elevados dos 50 estados Americanos) não põe em causa as decisões federais que levam à transferência dos seus "fundos e mundos" para um Estado mais pobre, como por exemplo, o Arizona. É esta a essência moral de uma federação - o pressuposto que as diferenças existem e que podem ser mitigadas. A poucos dias das presidenciais Norte-Americanas sinto mais naúseas pela situação Europeia do que o avanço de Mitt Romney nas sondagens. Mas devo dizer que esse avanço Mormónico não é coisa boa. Prefiro o espírito Quaker. O cream Quaker.
Mendo Henriques 28 Out 12
Coisas simples. Cantanhede, Lousã, Miranda do Corvo e Mealhada são 5 das 35 câmaras municipais distinguidas a 24 de Outubro na Associação Nacional de Municípios Portugueses - ANMP - com autarquias familiarmente responsáveis. A cerimónia de reconhecimento em Coimbra. Fernando Castro, presidente da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN), alertou para o inverno democráfico que Portugal atravessa . Não há sustentabilidade co quebra da demografia”. Fátima Ramos, presidente da Câmara de Miranda do Corvo, destacou que as práticas da sua autarquia incluem incentivos monetários à natalidade, ensino pré-escolar gratuito e descontos nas despesas de água e transportes.
Faust Von Goethe 26 Out 12
8 em cada 10 [sócios] benfiquistas votaram em Luís Filipe Vieira. Este é o resultado oficial. Neste curto comentário, não me irei debruçar-se sobre a vitória de Vieira mas sobre os erros de casting do candidato derrotado, Rui Rangel.
Rui Rangel, embora cheio de boas intenções-de boas intenções o mundo está repleto, diga-se de passagem- perdeu demasiado tempo a atacar Moniz e Vieira, sem perceber sequer-ou se dar ao trabalho de perceber- o que a entrada de Moniz significaria para a nova orgânica de Vieira.
Já há mais de 9 meses que se sabia da ida de Moniz para o Benfica. Já era para ter sido em 2009. E eu acho que disse isto a alguém algures...
Eu, que nem do Benfica sou, assim como benfiquistas comuns nos quais incluo o porteiro do meu prédio-que é benfiquista ferrenho e votou Vieira- já sabíamos que o Benfica não iria renovar com a Olivedesportos. Daí a entrada de Moniz.
Resumindo, não foi por acaso que Moniz saiu da Média Capital em 2009 e foi para a Ongoing. Há sempre um caminho intermédio até à Benfica TV.
Só a candidatura de Rangel é que parece nunca ter percebido, o que é de lamentar para um candidato que bradou na comunicação social que queria por fim ao reinado de Luís Filipe Vieira.
John Wolf 26 Out 12
Um dos legados da Política encontra-se no seu acervo semântico, nas frases que sintetizam um regime, nos desabafos históricos que passam a fazer parte da posteridade e que são resgatados como alibis de um argumento, numa especie de reciclagem de afirmações sem precedentes. A palavra é a ferramenta de eleição dos políticos, sacada de um estojo que pouco mais carrega, que pouco mais comporta, mas que importa imenso. Seja pela via oral ou na redacção apressada de um decreto-lei, a palavra escolhida com rigor é plena e autosuficiente. A palavra ajuizada não exige extensões ou justificações - leituras alternativas para a amparar. E é disso que se trata. O encosto no sentido literal. A almofada resgatada de um depósito a prazo, de um banco que se encontra longe do jardim, do descanso e do chilrar dos pássaros. Quando o PS se serve da "almofada financeira" para exprimir um desejo, é como se fizesse a cama no sentido negativo que se conhece. Como se pusesse o dentinho cariado debaixo do travesseiro e formulasse o desejo de multiplicação de divisas. A Almofada, genérica ou decorada pela fronha, não deixa de ser a indutora da preguiça. Soa a descanso eterno, a dolce vita. A palavra em causa foi mal escolhida. Foi a almofada que induziu o sonho perverso do esbanjamento. É a almofada que sufoca. É a sorte malfadada de quem já não sabe onde ir buscar qualquer coisa que faz falta, como tudo. Deixem lá estar o dinheirinho quieto no sono profundo das catacumbas do Banco de Portugal. Se lhe deitam a mão será mais um desastre a lamentar. Deixem lá a almofada descansar em paz.
Mendo Henriques 23 Out 12
Rui Moreira lança livro ULTIMATO
Lisboa, 25 de Outubro, 18h30
Apresentação do dr. António Costa
Livraria Buchholz, Rua Duque de Palmela, 4
John Wolf 23 Out 12
Tenho alguma dificuldade em ler a Declaração do Congresso Democrático das Alternativas. É mais extensa que a Constituição dos Estados Unidos da América e soa a linguagem de "nervos à flor da pele", sem a distância emocional que se exige para uma reflexão séria e responsável. Até parece que as causas da ruína encontram-se TODAS no Memorando e por extensão na Troika. Uma simplificação fácil como se não existisse uma Pré-Troika e um Pós-Troika. Sacudir a água do capote é muito conveniente, mas não esqueçamos que os que fizeram a Revolução de Abril, também montaram e destruiram o Estado Social, plantaram as sementes para o florescimento de grupos económicos e delapidaram as contas públicas. Será que existem dois Portugais? Um dos totalmente inocentes e isentos de responsabilidades e outro dos infinitamente culpados? Se o que se exige é a renegociação do termos do Memorando, então a história do país terá de ser reescrita. Desculpem a frontalidade. Bem sei que não tenho voto na matéria, mas o que se passa em Portugal preocupa-me. Dia 6 votarei (novamente) no Obama para tentar minimizar a inevitabilidade de um outro desastre.
Jack Soifer 19 Out 12
Os ciclos repetem-se! As crises e as revoltas também. E as inverdades pelos governantes, são então mais frequentes, em todo o mundo.
O Primeiro-Ministro veio à TV dizer que as greves dos portos estão a afetar as exportações. Não sei de onde ele tirou esta frase. Mesmo as estatísticas falhas do INE indicam-nos esses valores. Baseado nos dados dos anos e meses anteriores, ajustados para o crescimento médio normal e para a sazonalidade, fui ver quais são as exportações que saem pelos portos em greve, não a tonelagem, mas o valor. Investiguei ainda as importações pelos mesmos portos. Indaguei das transportadoras o que acontece com as cargas que deveriam sair e fui saber de que forma isto se reflete nas futuras encomendas dos clientes. Muito trabalho, mas é assim que se desmistifica a meia-verdade.
PASMEM: O valor de todas as exportações por dia de outubro que saem pelos portos é apenas de 24milhões. NÃO AS PERDEMOS! Elas são diferidas no tempo, pois vão principalmente para portos distantes, p.ex. nos PALOP e EUA, onde o atraso de uns dias, na estimativa de 30 a 40 para chegar à loja ou fábrica, pouco importa.
As exportações just-in-time, que poderiam afetar o cliente já vão há anos por TIR. As pouquíssimas que iriam por barco e poderiam afetar o cliente são na greve re-encaminhadas para outros portos próximos.
As importações, estas sim, afetam o nosso abastecimento de… carros, bebidas importadas, alimentos importados, que concorrem com a nossa produção rural. Mas o grande lucro está nos que intermediam essas transações, e isto está a afetar o fluxo para as offshores, que é um tabu, pois afeta os maiores interesses da mais alta política na UE.
O microcusto adicional da espera dos navios nestes portos em nada afeta as nossas exportações! Não perdemos 24milhões por dia com a greve. Perdemos 34 milhões por dia com a saída dos lucros para as offshores. Não é ilegal, mas não será imoral? Se os funcionários deste setor da banca fizerem greve, aí sim, senhor ministro, Frankfurt, Paris e Londres põem-no na rua.
John Wolf 19 Out 12
Comunicação Social e Cultura? (capítulo integral do livro - Portugal Traduzido, edições Cosmos 2008)
A comunicação e a cultura, embora próximas, não se equivalem e não devem ser confundidas. Comecemos por tentar dissecar o conceito de comunicação. Em primeiro lugar, teremos de reconhecer que a comunicação pressupõe sempre bilateralidade e reciprocidade, que se traduz na circunstância de pelo menos duas partes poderem alternadamente assumir os papéis de emissor e receptor na transmissão de mensagens. Convém também distinguir as diferentes dimensões da mensagem transmissível por via de comunicação. Os dados, a informação e o conhecimento. Os dados são representações não inteligíveis por estarem desintegrados de um contexto específico. A informação representa já matéria inteligível através da conversão de dados em significado. E o conhecimento representa informação relevante para o indivíduo receptor da mensagem.
O seguinte exemplo facilmente concretiza o que acaba de ser exposto. O código TP103 que integra duas letras e três números, não revela nenhum significado inteligível, mas se o colocarmos no contexto dos voos da companhia aérea Air Portugal, oferece uma quantidade de informação relevante. O código TP103 corresponde ao voo com destino a Nova Iorque e que tem partida às 15 horas e 35 minutos. Esta informação transforma-se em conhecimento se for relevante para o receptor, que, por exemplo, poderá ser um passageiro atrasado em casa a fazer desesperadamente a sua mala, e que se apressa para chegar a tempo para fazer o check-in. É esta a natureza do conhecimento – informação inteligível que tenha um impacto existencial sobre o indivíduo. Implicitamente, nem todas as mensagens comunicadas encerram valor para o receptor.
Esta ideia leva-nos a questionar o significado da mensagem no sentido cultural e se esta pode vir de um emissor com o qual não mantemos os requisitos mínimos de comunicação. Ou seja, bilateralidade e reciprocidade.
A cultura contém em si elementos que poderemos designar por ‘próprio-comunicação’. Ou seja, o reconhecimento de um alter-ego ou alter-intelecto como o qual mantemos um diálogo que conduz a um refinamento do nosso sentido crítico. Se não realizarmos a tarefa autónoma de construção selectiva de um manancial cultural (escolhendo as mensagens que desejamos emitir ou receber), estaremos à mercê de emissores de conteúdos que formatam o nosso quadro mental e emocional.
Comecemos por encarar seriamente a seguinte designação utilizada em Portugal e de forma irreflectida: meios de comunicação social. Esta expressão chega com contradições genéticas. A comunicação social pressuporia que os receptores da mensagem pudessem igualmente emitir uma mensagem enquanto resposta à primeira mensagem nos mesmos termos ou em formato equivalente. Algo que não acontece, por exemplo, nas transmissões televisivas, uma vez que a massa dos telespectadores, enquanto corpo social, não produzem uma resposta uníssona. Embora exista bilateralidade, não observamos reciprocidade nesta relação, que correctamente terá de ser designada por difusão. A comunicação social, entendida enquanto relação entre pelo menos duas entidades sociais ou grupos, poderá ser observada, se quisermos, quando duas claques de futebol rivais se posicionam nas bancadas opostas de um estádio de futebol e entoam cânticos que provocam sucessivas respostas. Neste caso, poderemos aceitar uma definição de comunicação social, se nela realmente pretendermos insistir.
A estação de televisão Sociedade Independente de Comunicação (SIC) poderia ter reflectido um pouco mais sobre o significado da sua designação. Com mais justeza, a SIC deveria ser designada por SID, ou seja, Sociedade Independente de Difusão. Quando ouvimos a expressão ‘meios de comunicação social’ estamos a ser induzidos num erro grosseiro. O termo correcto para definir a actividade de transmissão de mensagens realizada de forma unilateral, será a difusão. A Rádio Difusão Portuguesa representa uma expressão honesta, uma vez que a difusão corresponde à transmissão de mensagens e é realizada apenas num sentido, de um emissor para um sem número de receptores. As verdadeiras empresas de comunicação, serão, segundo esta acepção, as ‘telecoms’, ou seja, as empresas de telecomunicações, como a Portugal Telecom ou a americana SBC, que garantem bilateralidade e reciprocidade. Ou seja, uma equivalência entre emissor e receptores, através de um contínuo jogo de alternâncias. Retomando a expressão ‘meios de comunicação social’, e após pesquisa nos meandros internacionais da teoria da comunicação, não encontramos em nenhuma outra tradição linguística essa expressão. Aceitar uma ideia de ‘meios de comunicação social’ significa aceitar instrumentos de transmissão de mensagens que não assume uma configuração intencionalmente organizada, como acontece com os jornais diários ou a televisão, uma vez que um corpo social assume formas espontâneas e pela agregação de indivíduos e respectivas vontades.
Outra interpretação da expressão leva-nos a concluir que a ênfase é colocado nos ‘meios’ em detrimento da dimensão humana. Uma maior importância é atribuída à tecnologia envolvida, do que ao capital humano ou intelectual, prevalecendo a forma sobre a matéria.
A transmissão de mensagens que poderá ser integralmente controlada, é aquela construída por cada indivíduo na sua autonomia existencial. As mensagens transmitidas de um indivíduo para outro têm a obrigação de estar sujeitas ao escrutínio da fundamentação e do valor, porque não dependem de nenhuma outra instância. Nesse sentido, a comunicação resultante do esforço individual será sempre uma tarefa eminentemente cultural, pela forma como cada um de nós selecciona a matéria que deseja integrar no seu espectro de conhecimento. Poderemos também fazer alusão à captação de informação a partir de ‘naturezas mortas ou latentes’, assumindo que tudo o que nos rodeia tem relevância e conhecimento. Isto implica reconhecer o esforço que se exige na interpretação da ‘informação latente’ presente em todos os veículos de informação, sejam livros, a arquitectura ou um cão vadio que atravessa a rua.
Assumir que existe uma hierarquia de valor cultural ou informação mais ou menos relevante, significa reduzir a possibilidade de crescimento intelectual seja qual for a plataforma de partida. Aceitar passivamente que determinados veículos de informação possam estabelecer uma hierarquia de valores de conhecimento, significa comprometer a possibilidade de construirmos o nosso sentido crítico, que se configura através do contínuo confronto de ideias e partilha de informação.
A capacidade para comunicar de forma eficiente relaciona-se com a atribuição de importância ao conceito de inteligência emocional que apenas se manifesta em estruturas sociais. Uma pré-condição para o desenvolvimento do potencial de comunicação será a manutenção da dinâmica das relações afectivas. As emoções despoletam no indivíduo a vontade de interagir, e representam estados de desequilíbrio, pela desigualdade que se observa entre os interlocutores, no que diz respeito à detenção de quantidade ou qualidade de informação. O fluir de informação ou conhecimento acontece através de um status de desencontro ou erro, entre as partes envolvidas numa relação de comunicação. A cultura enquanto produto fraccionável também não se encontra repartida de forma equitativa, sendo que qualquer indivíduo apresenta sempre a sua condição de eterno deficitário de conhecimento – a totalidade nunca será apreendida, assim como as qualidades intrínsecas de um dado objecto de saber.
Compreender a nossa permanente relatividade cultural significa que devemos procurar a partilha de conhecimentos, numa base equitativa e sem preconceitos sociais. O estabelecimento de canais de comunicação eficientes, tecnologicamente tendentes à infalibilidade, não substitui a carga qualitativa da mensagem. A própria ideia de sistematização da cultura em esquemas orgânicos contradiz a natureza comunicacional e genética de cultura, que sobrevive e evolui à custa do caos do contributo crítico obtido nas várias respostas que surgem em tempos distintos. Não reconhecer os atributos da resposta ou reacção, significa aceitar a ditadura que nos é imposta por determinados intérpretes de informação. Cabe a cada indivíduo desenvolver autonomamente o seu manancial de conhecimento, e produzir uma resposta aos sistemas de difusão, que nunca serão meios de comunicação. Contudo, num momento prévio a essa acção, somos confrontados com a necessidade urgente de socializar a comunicação de forma a que se transforme num fenómeno universal. Isto significa aprender a estabelecer ligações com indivíduos ou entidades que neutralizem preconceitos ou juízos de valor.
Em Portugal, podemos observar que quer o conhecimento, quer a informação ou a cultura ainda estão entranhados nas estruturas de poder ou na ideia de autoridade. A informação ou a cultura, é utilizada enquanto ferramenta ao serviço do poder e da afirmação social. Assistimos ao sequestro do conhecimento, perpetrada pelas estruturas de poder, dificultando o desenvolvimento cultural e democrático do país. A política cultural serve sobretudo para agradar as elites do poder, e não consegue alcançar destinatários não filiados nas várias matrizes que configuram a realidade. A cultura continua a ser um processo burocrático, porque não exalta a possibilidade de crescimento independente e criativo dos indivíduos. Novamente confirmamos que não assistimos ao esforço de materialização do conceito de comunicação bilateral e recíproco entre o poder e os seus destinatários, que deveria servir para libertar todo o potencial de qualquer cidadão. Por outro lado, não sentimos a mensagem de contágio dos vários agentes ou intervenientes culturais que têm a obrigação de questionar a forma como os governos gerem a cultura – matéria comunicável por excelência.
Enquanto a idolatria dos emissores de mensagens for a norma, nunca teremos a capacidade dera discernir o valor da mensagem do ruído de fundo. Ao delegarmos a produção de mensagens a representantes mediáticos (comentadores e cronistas) comprometemos a nossa autonomia e recuamos no processo de consolidação democrático. Torna-se nossa obrigação participar no processo de produção e emissão de mensagens, enquanto reacção ou não, a mensagens veiculadas num momento prévio. No âmago do conceito de comunicação encontramos a virtude democrática da livre expressão. Talvez devido a Portugal ainda se encontrar na infância da Democracia – 33 anos volvidos sobre o 25 de Abril – a ideia de partilha de informação não está convenientemente presente no comportamento individual ou social da sociedade. Observa-se uma atitude de salvaguarda do ‘quinhão de informação’ e a rejeição de uma ideia de conhecimento partilhado colectivamente.
A incapacidade para proceder à análise dos conteúdos das mensagens, relaciona-se com a excessiva importância atribuída ao agente no processo de comunicação. Em Portugal, quem profere o discurso assume maior importância do que a mensagem transmitida. E como as mensagens não se emancipam dos enunciadores, as ideias não sobrevivem enquanto conceitos autónomos. Contraria-se deste modo a dinâmica da livre circulação de ideias, que apenas cumpre o seu propósito se se der a sua emancipação na sociedade que progride também através de um esforço colectivo anónimo e de comunicação.
Num plano prévio à comunicação somos obrigados a encarar o domínio cognitivo do sistema de troca de mensagens ou conteúdos. Assumindo a comunicação enquanto mecanismo de compensação ou troca entre diferentes actores, devemos também perceber o significado de algo que poderemos designar ou entender como ‘vector de integração’, que se traduz na vocação para integrar elementos exógenos à própria natureza ou génese. Ou seja, a integração no nosso quadro mental de ramificações cognitivas que nos obrigam a questionar a nossa plataforma de percepção e entendimento. Ao aceitarmos a nossa fragilidade intelectual, e uma ideia de mudança de paradigmas, seremos obrigados a escutar mais atentamente as mensagens produzidas pelos outros e a questionar as nossas certezas. Convém no entanto, não abandonar o nosso próprio racional e proceder à eleição inconsciente de ‘intérpretes da verdade’ – substitutos da nossa independência e do nosso pensamento.
A comunicação pressupõe sempre um sentido de responsabilidade cívico pela forma como as mensagens podem instigar condutas. Cada indivíduo deve ser responsabilizado pela mensagem que emite e proceder à análise do tipo e forma de reacção que produz no receptor. A apropriação de mensagens preconcebidas por outros também representa um forma negativa de reacção a mensagens e uma conduta reprovável, uma vez que viola o princípio de integridade intelectual. Contudo, os conceitos ou as ideias que se afirmam enquanto novidade, apenas representam a continuidade de um processo de construção social interminável. Cada indivíduo participa na elaboração de um quadro alargado e societário de conhecimento e cultura.
Um dos grandes entraves à comunicação em Portugal relaciona-se também com a ‘personalização das mensagens’ e a perda do sentido ‘missionário’ da ideia anónima. Ou seja, as ideias, pela sua natureza, detêm um valor intrínseco que transcende a importância da sua autoria.
A crítica, enunciada pelo sujeito em qualquer ambiente relacional, e que se assume como outra modalidade de mensagem, é tida muitas vezes como um ataque ao carácter e honra do produtor da mensagem. A excessiva estratificação social portuguesa ditou canais de comunicação que dificultam o fluir de ideias e torna difícil o veicular da crítica de um patamar para outro, de um segmento para outro, e de individuo para indivíduo. Por razões de continuidade existencial, assistimos ao desenvolvimento de falsas elites intelectuais que garantem a sua sobrevivência pela inviolabilidade dos seus códigos de comunicação (as mensagens que produzem não fazem sentido ou não são entendidas) A existência destes círculos restritos depende da mensagem insondável que emitem e pelo efeito de falsa ignorância que suscita nos outros. Tentar restringir o acesso às genuínas fontes do saber significa adiar o desenvolvimento de uma sociedade e dos elementos que a integram.
A cultura encerra no seu significado a conversão de conhecimento especializado em símbolos que possam ser apreendidos e entendidos por leigos. A comunicação e a cultura estabelecem uma relação simbiótica quando servem o desenvolvimento da sociedade. A relação que se poderá estabelecer entre comunicação e cultura diz respeito ao papel da cultura enquanto fornecedora de conteúdos ou mensagens.
Estabelecer uma linha de comunicação tecnologicamente dotada não significa a criação de informação ou conhecimento válidos ou pertinentes para as partes envolvidas. De nada serve a possibilidade de comunicação em ‘alta-fidelidade’ se os conteúdos a transmitir são de fraca ou nula qualidade. Portugal representa o ‘país-tubo-de-ensaio-de-eleição’ para testar os mais recentes equipamentos de comunicação. A última geração de terminais de comunicação (telemóveis) chega quase sempre em primeiro lugar a Portugal devido à apetência do mercado para consumir os últimos gritos tecnológicos. As empresas de comunicação sabem que Portugal representa um modelo perfeito para medir a penetração de novos equipamentos no mercado.
Infelizmente, essa expressão vanguardista não se faz acompanhar pelo desenvolvimento dos conteúdos de comunicação porque os consumidores não questionam as mensagens, preferindo o apelo da dotação tecnológica. Estaremos na presença de uma sociedade que aprecia muito a exibição dos seus brinquedos tecnológicos, mas que não acompanha essa tendência com o incremento da sua expressão cultural. A comunicação tecnologicamente versada não implica no seu conceito um pacote intelectual ou cultural. Ter a presunção de que o equipamento tecnológico de uma sociedade possa induzir a elevação do nível cultural representa um equívoco. Sem a construção sustentada de um manancial cultural, uma sociedade fica comprometida pela incapacidade em comunicar com o futuro, que acontece com a contínua renovação de ideias. A inexistência de um fluxo de comunicação entre disciplinas distintas, através do qual os interlocutores estabelecem um diálogo multidisciplinar ou intercultural significa negar a própria história nacional que foi sendo construída pelo contributo de mensagens exteriores.
O império ultramarino constituiu para além da sua dimensão económica, uma experiência pioneira na construção de uma rede transnacional de comunicação entre culturas distintas. Por analogia, assistimos ao desenvolvimento sub-reptício de uma rede de comunicação intercultural no plano interno. A integração de comunidades de imigrantes em Portugal poderia representar uma oportunidade para inverter a lógica de comunicação no contexto da localização geográfica de Portugal no limite ocidental da Europa. A recepção de pessoas de culturas distintas (verdadeiros agentes culturais) no território nacional deveria implicar o aproveitamento do capital intelectual vindo do exterior. A construção de riqueza numa sociedade processa-se por via do aproveitamento de factores exógenos. A consanguinidade intelectual de uma sociedade representa o início de um processo de degeneração, e relaciona-se com a negação da ideia de comunicação com elementos, conteúdos ou indivíduos não pertencentes ao paradigma dominante. Em termos caricaturais, poderíamos utilizar o letreiro corrente que informa sobre a ‘entrada proibida a pessoas estranhas ao serviço’. Leia-se: ‘entrada proibida a ideias excêntricas no processo de pensamento’.
A exclusão de elementos originais na cadeia de comunicação significa o não refrescar dos conteúdos da mensagem. E o resultado da agregação de mensagens individuais também perfaz algo que poderemos designar por mensagem nacional ou colectiva. Corremos o risco de o país veicular uma mensagem colectiva que nega a noção de processo intelectual dinâmico. A forma como um país é percepcionado representa assim mais uma dimensão da comunicação. Qualquer forma de expressão ou produção de mensagem implica um fenómeno de percepção que não se controla à partida. Assumindo esta afirmação reforça-se a responsabilidade associada à produção de mensagens no sentido colectivo. No grande sistema internacional cada país é também percepcionado de acordo com a matriz de comunicação que define. A exterioridade da comunicação de um país determinará o seu posicionamento na tabela de desenvolvimento e as oportunidades comunicadas por entidades externas. Comunicar é preciso.
John Wolf 18 Out 12
Mendo Henriques 16 Out 12
Manifestantes em frente a S. Bento, Lisboa, de 2012, a 15 de Outubro... Aos poucos, a rua toma conta de si mesmo
porque ninguém a estrutura. É essa a força e a fraqueza da democracia participativa. Em poucas semanas, as imagens ficaram radicais e mal está quem não as entende. O que se exige aos governantes é muito simples: que saiam do pedestal para o qual foram eleitos e que entendam que há sete milhões de eleitores e que é eles que têm de ser governados. Não se governa para a troika. Quem acha que primeiro está a troika e depois o povo, segue pelo caminho errado.
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