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Blogosfera que Pica
João Palmeiro 7 Nov 12
Mais do que o Orçamento do Estado, enquanto documento condicionador de políticas e de projetos e modelos empresariais ou pessoais, mais do que o seu impacto sobre a vida das famílias e das empresas, o que assistimos nas últimas semanas, desde 7 de setembro, é a um imenso problema de comunicação que está a pôr os portugueses numa pressão psicológica sem precedentes. Nem a guerra em Africa, onde os objetivos poderiam ser condenáveis ou desastrosos, mas ao menos a comunicação era clara.
E a opacidade da informação, ainda por cima confusa e errática, mina os alicerces da democracia, com os mesmos efeitos da censura e da propaganda; os cidadãos começam por desconfiar que nunca lhes contam tudo, e prosseguem vendo em cada anúncio apenas um ato de condicionamento.
A conferência de imprensa do Ministro das Finanças é o mais recente ato desta tragicomédia.
A administração pública portuguesa perdeu há muitos anos a capacidade de se apresentar transparente e explicadamente aos cidadãos; o boato que mina as nações em momentos de tensão, foi substituído pelas redes sociais com uma capacidade de mobilização efetiva, ainda que com resultados mais aparentes do que efetivos; o cidadão vê-se assim à míngua de informação credível, manipulado por forças que de forma dissimulada, mas organizada, procuram lançar a anarquia e o caos social.
Infelizmente até o Presidente da Republica contribui – seguramente involuntariamente – para este estado de guerrilha comunicacional.
O cidadão, confuso, vira as costas à informação, desinteressa-se das atividades dos seus representantes eleitos e reage quando no final de janeiro recebe o recibo do ordenado.
Perante medidas tão complexas e tão impactantes para todos os portugueses, o Governo deveria já desenvolver uma campanha de informação pública, expondo as fórmulas de cálculo, os algoritmos e outros modelos matemáticos que vão guiar a vida dos portugueses, pelo menos por mais um ano.
Escrutinada por jornalistas e políticos, comentada pelas associações da sociedade civil, essa imprescindível campanha de informação pública conduziria ao debate – sério e honesto – que colocaria no campo das ideias (e dos ideais) o futuro de Portugal, retirando da simples palavra confusa as dúvidas e temores de futuro, para como ainda tão recentemente disse Adriano Moreira, devolver à palavra a força das palavras.
Jack Soifer 7 Nov 12
Desconfio quando uma instituição dominada por lobistas diz ser solidária. Os experts da Comissão Europeia não querem perder os seus privilégios e bons salários. Nem que os seus amigos tenham o salário reduzido ou a atual estrutura de poder questionada.
Eles lembram-se ou leram o que ocorreu nos EUA com o massacre aos jovens, durante a guerra do Vietname. E como esta revolta acabou por levar ao poder Kennedy que, assassinado, deu origem a um movimento que, pela primeira vez na história de uma democracia, obteve o impeachment de um Presidente, o Nixon.
Eles lembram que a rigidez da CCE e dos lóbis que não permitiam inovações técnicas nem sociais trouxe a Revolução Estudantil de 1968, em Paris. A atual situação social, política e económica aponta para que, ainda este ano ou em abril de 2013, os jovens desempregados iniciem uma revolta que focará na atual estrutura de privilégios de alguns bancos estrangeiros, e de algumas megaempresas.
Assim, Durão Barroso tirou um coelho da cartola e oferece umas migalhas para mitigar o desastre que assolou a UE e vai piorar em 2013. Ao criar um buffet com trabalhos provisórios e estágios para jovens, até as eleições na Alemanha, espera Barroso poder então ter um outro Chanceler, disposto a ouvir em vez de ordenar, como a Frau FerroStaal agora faz.
Não creio que os jovens de hoje deixar-se-ão iludir com as belas palavras do Herr Durão Raposo. Pois ao lado dos jovens encontra-se por toda a parte, não só nas ruas, o raciocínio dos maduros desempregados, dos reformados prejudicados, dos economistas de tanto alertar, já cansados.
Quando em mar/10 no Prós Contras alertei que já estávamos em recessão a caminho de uma depressão, que precisávamos sair do euro, chamaram-me de pessimista.
Quando antes do acordo do governo português com a Troika escrevi que precisávamos de uns 160MM€ e 8 anos para o reequilíbrio, fui chamado de extremista.
Agora até o The Economist deu-me razão. Quando em 2010 insisti no Euro-M, mediterrânico, temporário, uns 20% desfasado do Euro-N (Norte-Europeu), até Grécia, Itália, Espanha e Portugal recuperarem o equilíbrio orçamental e a competitividade, quase perdi dois amigos.
Hoje temos estes países a pagar 6 a 9% de juro pelos empréstimos que a Alemanha, França e Holanda pagam 0 a 1%. Não é o mesmo euro, não é a mesma UE? Na prática o nosso euro emprestado já se desvalorizou uns 8% e a situação piora!
Quando no início do ano escrevi que o ministro das finanças, Vítor Gaspar, era otimista quanto a receita fiscal, chamaram-me de pessimista.Não só a equipa dele não considerou todos os fatores cíclicos, mas também esqueceu a economia paralela a crescer; e vai piorar. E um consultor experiente não pode dizer “o que foi que eu disse?”
Aprendi cedo: “Errar uma vez é humano, duas vezes é burrice, três é estupidez”. O novo erro da receita fiscal publicado esta semana é o terceiro!
Portugal não exportou mais em 2012, como dizem. Saíram 350M€ legalmente, o dobro ilegalmente, em ouro das famílias. É património dilapidado!
Jack Soifer 7 Nov 12
Vimos na TV as chamas no quase novo centro comercial de Portimão. Não deveria arder! Uma construção nova deve seguir as estritas regras de materiais, distâncias, etc, que mesmo que uma das lojas comece a arder, sprinklers, portas blindadas, tudo impede a sua propagação às vizinhas. “Há algo de podre no reino da Dinamarca”, dizia Hamlet. E se calhar, não só lá.
O pior ainda vai acontecer. Pois as grandes superfícies, em especial as que pertencem ao que se diz ser o maior grupo empresarial do país, após a construção arrenda espaços nos corredores, inicialmente calculados e aprovados pelos bombeiros sem esses stands, para permitir a rápida evacuação dos clientes, num caso de incêndio com elevada propagação.
Seja em Portimão, em Albufeira, Guia e até no Alentejo, de onde é a foto, vê-se temporários arranjos de bicicletas, prendas, brinquedos, produtos de beleza, etc que dificultam a evacuação do local. Como o proprietário sabe de antemão quando haverá a inspeção dos bombeiros, atravanca quando eles lá não estarão.
Em Gotemburgo, Suécia, há uns 18 anos, morreram uns 200 jovens quando num incêndio, viu-se a porta de emergência bloqueada. Todo o sistema de controlo foi alterado e hoje qualquer pessoa pode telefonar para um número central no país, que envia um fiscal sem uniforme em poucas horas. Após a primeira multa, a grande superfície perde para sempre o seu alvará naquele município.
Na Índia e no Paquistão fazia-se o que se faz por cá. Após a morte de 300 em cada país, há novas regras de controlo. Parece que estamos pior do que eles, nada aprendemos com os desastres e as regras só aplicam à inauguração.
Se o incêndio daquela madrugada, em Portimão, tivesse ocorrido num sábado à tarde teríamos 300 não só desempregados, mas já mortos.
É ao ver este “posso, quero, mando” que os estrangeiros do Algarve estão a ir-se e nenhum investidor tecnológico, que poderia aumentar o emprego aqui, tem a coragem de cá investir. Porquê? Leia no Como Sair da Crise, Algarve!
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