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Blogosfera que Pica
Anabela Melão 15 Abr 14
Momentos cruciais da vida política passam-se nos "passos perdidos", entre a alcova, a mesa e a bolsa. À revelia do interesse e da voz dos portugueses. As elites dão como certa a conformação e a resignação do povo, adormecido pela escassez, vestida de desemprego, de fome ou de pobreza. O povo, no dizer da elite, não está à altura de assumir as grandes escolhas. A bipolaridade do arco da governação assola o País. Gerou imobilismo. Cimentou a falta de esperança. Mantém um Estado esbanjador. Portugal vive em estado de falso restart. Reina a confusão entre a continuidade e o recomeço, à direita, ao centro e a esquerda. O tal suposto novo restart camufla o equilíbrio draconiano das contas públicas. Sem transparência. É inevitável o cepticismo em relação aos políticos e aos partidos. O futuro de Portugal Livre ultrapassa a discussão da presença da Troika e de ideologias avulsas, marcados por interesses particulares e corporativos. O essencial da questão mantém-se desde há quatro décadas: a escolha de representantes eleitos que obedecem a velhos compromissos de tudo mudar para tudo continuar na mesma. A falta de cidadania levou a que a pomba da liberdade se encarcerasse em belém, a que são bento claudicasse, a que laranja apodrecesse à lapa, a que a rosa murchasse no rato, a liberdade voou para parte incerta, mas para longe do cais das colunas e do porto graal. Um País que se deixa morrer abnegado pela sua margem falsa de conforto, sucumbiu ao paternalismo do poder instalado, avassalou-se a uma vida sem dignidade, preteriu o direito ao sonho. Um restart não chega. Urge ressuscitar. A Portugal falta o pé. Levantar-se. Erguer-se. Faz falta a este portugal o Portugal de todos. Restaurar Portugal sim. Encontrem-se, ao menos, Quarenta Conjurados. 40 anos depois. - qual é o maior pesadelo? viver no estertor do marcelismo ou sob dominação estrangeira? - há 40 anos ninguém aceitava a legitimidade do poder. hoje, a questão da "legitimidade" não se coloca, argumentando muitos que este foi estabelecido pelas mãos do povo nas urnas [como tantas outras ditaduras!]. uma acção insurreccional ou uma ruptura profunda só é permitida, segundo outros, desde que dentro do quadro institucional. - espoliam-se direitos aos reformados, funcionários públicos e trabalhadores, a coberto de um estado de emergência não declarado pelas vias constitucionais, mas assumido, cá dentro e lá fora. - contrariamente há 40 anos, o país vive sob a ficção da interdependência, na ausência da soberania vendida. - se há Liberdade? Liberdade para que liberdades? As que restam. - rendemo-nos à "democracia" regular pela via da escolha? - optamos por alternativas "de alterne"!? Portugueses. 40 anos depois. Portugal sem esperança. Em decadência. A caminho da sua própria irrelevância. "- A nação é de todos. A nação tem de ser igual para todos. Se não é igual para todos, é que os dirigentes, que se chamam Estado, se tornaram quadrilha. Se não presta ouvido ao que eu penso e não me deixa pensar como quero, se não deixa liberdade aos meus actos, desde que não prejudiquem o vizinho, tornou-se cárcere. Não, os serranos, mil, cinco mil, dez mil, têm tanto direito a ser respeitados como os restantes senhores da comunidade. Era a moral de Cristo: por uma ovelha... Se os sacrificam, cometem uma acção bárbara, e eles estão no direito de se levantar por todos os meios contra tal política." - Aquilino Ribeiro, Quando os Lobos Uivam, 1958
Comemorar o quê? Senhores, falta cumprir-se Portugal!
João Palmeiro 6 Abr 14
Anabela Melão 3 Abr 14
A Justiça falece. A Justiça apodrece. Mas o "mercado da justiça" tende a render. A propósito da "negociação" das penas, importa chamar a atenção para alguns pontos. "Negociar" as penas é cavar ainda mais fundo o já ultrajado princípio da igualdade de tratamento dos cidadãos perante a lei. A Constituição, embora claramente "suspensa", estabelece que o Ministério Público exerce a acção penal orientado pelo princípio da legalidade, que está obrigado a dirigir as investigações seguindo critérios de objectividade e que lhe assiste o dever da procura da verdade material do caso. A "negociação" das penas - e assim o confirmam Hollywood e a prática judiciária americana - acaba, na maioria das vezes, por ficar dependente da capacidade/habilidade negocial dos advogados dos arguidos (sendo que quanto maior a capacidade financeira do arguido para custear as despesas com "grandes" advogados maior é a possibilidade de a pena ser "negociada" em moldes mais favoráveis ao arguido), o que me parece agrava o fosso entre ricos e pobres, mais ainda do que actual, desequilibrando os pratos da balança em função do volume de notas de um dos pratos. Um Ministério Público supostamente independente tem a sua actuação circunscrita à lei e ao quadro e poderes nela delimitados, e dependente do controlo no âmbito da função judiciária. A única vinculação do Ministério Público, em princípio, é à tal "verdade material". Num País em que a prescrição já é um fantasma suficientemente diabólico nas mãos de hábeis advogados custeados por ainda mais hábeis arguidos permitir a manipulação da medida da pena, ou a sua não aplicação de todo, é um insulto ao comum dos cidadãos. Permitir que se introduzam factores de negociação das penas dependentes do bolso do arguido é um acto de terrorismo legitimado por um Estado que já pouco tem de "igual" para oferecer aos seus cidadãos. Mais do que terrorismo judiciário, tendo em conta que a medida das penas dos crimes mais graves são as que mais afectam a justiça social, é terrorismo social. Os tribunais deveriam ser o último reduto da Democracia, o último porto seguro dos cidadãos. Não o são, até pelo fantasma da prescrição a coberto de expedientes dilatórios que envergonham a Justiça e a desmerecem aos olhos dos que dela mais precisam e com ela mais contam. Haja diligência, isenção, transparência e independência. Valores não negociáveis, creio eu ainda. AM
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