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Blogosfera que Pica
João Palmeiro 17 Abr 12
O Google e a Apple (Ipad), não são diferentes na sua relação de apropriação ou comercialização de conteúdos jornalísticos dos media, do Rei de Cochim (segundo Camões), que com os seus Califas (e mais tarde Sandokan, segundo Emílio Salgari), organizava as frotas de barcos chineses, filipinos, indonésios e árabes, para transportar mercadorias de que não era proprietário, assegurando a logística, plataforma ou suporte diremos hoje, e a continuidade do meio quando o mar findava e os camelos e as carroças tomavam o lugar das velas, sempre negociando com os poderes locais - os isps ou websites locais – a protecção da passagem das mercadorias sob sua protecção que fluíam pelos seus canais.
Chegadas à Europa, as mercadorias que restavam eram de novo tomadas por novos sistemas de distribuição (venezianos e genoveses) e chegavam ao consumo dos poucos europeus capazes de pagar todo este sistema logístico.
Assim acontece com os conteúdos dos media quando, depois de passarem pelos canais do Google o do Ipad (loja itunes), o que resta para os editores (e para os jornalistas) são escassas migalhas, comparadas com o valor e o custo da produção da noticia e dos riscos de toda a natureza inerentes à produção de conteúdos jornalísticos editados e responsáveis.
Com a chegada de Vasco da Gama – e dos portugueses – à Índia o Rei/Sultão percebeu que a oferta era outra, directamente do produtor para o consumidor (através de Lisboa ou Antuérpia), com um único risco, a navegação, mesmo assim bem apoiada em portos ao longo da rota, protegidos directamente pelos portugueses. E os locais de embarque passaram a ser operações mistas em que o mercador mantinha uma relação comercial directa com o transportador, podendo até seguir a bordo com os seus produtos (ou serviços quando era o próprio a aplicar os bens transportados). Sim, a verdade é que cada viagem era uma empresa privada organizada por um empreendedor, que arriscava o investimento na armação da esquadra, ficando o rei com os impostos ou o preço da segurança armada e a Igreja com a oportunidade da fé.
O algoritmo desta bem montada excursão ao volta do cabo era assim um misto de ciência, capacidade organizativa, substrato cultural e ideológico e estrategtia de sobrevivência que os anos transformaram também num modelo de administração que Albuquerque desenvolveu, permitindo que o carácter aventureiro se transformasse em acordos respeitados, umas vezes diplomaticamente, outras militarmente e com um aliado sempre presente, a Igreja Católica o maior network da época.
Todos conhecemos que Portugal não conseguiu aguentar a liderança deste modelo quando potências mais ricas, mais estruturadas e mais desenvolvidas entraram na concorrência. Assim nasdeu e se mantém o Império Britânico.
Mas Portugal lucrou com a empresa, toda a organização do comércio da África ao Sul do Equador, o desenvolvimento esplendoroso do comércio, da ciência e das artes no seu rectângulo europeu, o seu lugar à mesa da política da Igreja Católica e dos Impérios Europeus até ser brindado com o ultimato de 1891. E o Brasil, sem Gama e Albuquerque (e o Padre António Vieira, sejamos lúcidos), não poderiamos dizer hoje que somos a 4ª ou 5ª língua mais falada no mundo (com um incalculável valor acrescentado nos seus conteúdos).
Será que a solução para os editores de media nas suas contendas com o Google e a Apple passará por encontrarmos os nossos Gamas e Albuquerques capazes de interpretarem no século XXI uma estratégia semelhante à que criou o conceito em que o Google e a Apple se desenvolveram?
Quase já não tenho dúvidas sobre esta visão da solução, solução indispensável para que os conteúdos jornalísticos editados e reponsaveis, possam manter a sua promessa de sustento da Democracia, confiança dos cidadãos e observadores da vida política, social, económica e cultural, em suma, baluartes do desenvolvimento e da paz, como os portugueses acabaram por ser há 500 anos quando iniciaram a visão global do mundo.
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