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O Ouriço

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de pressão em pressão

John Wolf 9 Jan 12

Para além da ciência, do saber, dos métodos quantitativos, das taxas de crescimento, da economia, da riqueza ou da política, há algo que paira no ar e que torna tudo o resto irrelevante. Uma sensação que emana de algo poderoso e que se entranha em cada indivíduo. Uma dimensão que condiciona o espírito de uma nação; que a separa da própria noção de esperança. E quando esta se vai, leva consigo a expectativa positiva, a crença na natureza humana, os ideais, e a afirmação basilar que nos diz que vale sempre a pena. A retoma que procuram em cimeiras contradiz-se, morre a cada fôlego, porque se assume que o regresso ao mesmo paradigma é desejável. Sem o percebermos, porque o negamos até ao fim, esgotámos os axiomas que mantiveram de pé as ilusões de mais do que uma geração. Podemos afirmá-lo sem reservas que esta crise já não preenche os critérios nefastos que a retrataram. Transcende os mesmos. Tem efeitos retroactivos e retrospectivos. Gera dúvidas prospectivas porque não vislumbramos a saída fácil, apanágio de sociedades funcionais, perfeitas, desprovidas de alma. E enganaram-se. Enganamo-nos. Tivemos ganas de alcançar o estatuto não pensante. Um local onde as máquinas de pensamento foram desligadas e somos posse, somos proprietários. Fomos possuídos. Eis-nos aqui, no dilema da salvação possível, que é uma meia viagem, o entroncamento realizado a partir da condição sobrevivente, um conjunto vasto de viajantes largados num apeadeiro inóspito. Se não o descrevo com melhores argumentos é porque sinto que o mundo está tombado, residente num crepúsculo enganado, horizontal. E embora não o queiramos admitir, a depressão que não é mencionada nestes termos, já chegou, prostrando os primeiros, aqueles mais vulneráveis, mas avança soturnamente por caminhos tantas vezes trilhados. De pressão em pressão, quão frágil o nosso estatuto, a nossa pose soberba, viva mas por pouco.

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1 comentário

De cc a 09.01.2012 às 20:19

É esse mal chamado tristeza que nos vai derrotando à medida que assistimos à derrocada de uma Democracia que nos era querida. Fomos sabendo mas ainda era possível fazer de conta que não estavámos a ver...mas agora...!

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