Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

O Ouriço

MENU

Crónicas do Republicanismo #1

Mendo Henriques 17 Mai 12

 

Estou a acabar de escrever o segundo artigo  académico (de uma série de quatro) sobre o Republicanismo como Religião Civil.

A ideia central é simples. Ao contrário do que se diz entre especialistas, sobretudo em Coimbra com Fernando Catroga e em Lisboa com Fernando Rosas, o republicanismo português foi lacista e anti-católico por circunstância mas favorável à religião da humanidade por princípio. 

Mas mais do que laico, o republicanismo de Teófilo Braga, Magalhães Lima, António José de Almeida et al. foi apologista de uma religião civil, com rituais de exaltação da nova sociedade sagrada, exigência de registo, casamento e enterro civil, comemoração de centenários, culto das personalidades, toponímia nova, culto aos mortos, soldados desconhecidos.  Toda esta exaltação coletiva tem bases conhecidas em Rousseau, Robespierre, Comte, Littré, etc.

A parte mais surpreendente é que a religião civil republicana foi herdada por Salazar que a tornou compatível com o catolicismo e lhe enxertou o culto da sua personalidade. Tinham mudado as circunstâncias

Autoria e outros dados (tags, etc)

4 comentários

De Fernando Catroga a 18.05.2012 às 18:37

Caro Mendo Henriques

Com alguma surpresa, vi o meu nome associado a historiadores que acham que o republicanismo português da fase militante e posterior a 5 de Outubro de 1910 foi somente uma laicidade e não um laicismo e uma religião civil. Ora, já há algumas décadas defendo aquilo que parece perfilhar. Fi-lo não só no meu ensaio "Os inícios do positivismo em Portugal" (1977), mas também em: "Ritualizações da História" (1996); "O Republicanismo em Portugal" (3ª ed., 2010); e, sobremaneira, no livro "Entre Deuses e Césares.Secularização, laicidade e religião civil" (2ª ed., 2011), obra em que, não por acaso, procuro clarificar, numa perspectiva teórica e histórica, os conceitos que o seu comentário convoca.
F Catroga

De Mendo Henriques a 18.05.2012 às 19:56

Caro Fernando Catroga
Muito obrigado por seu comentário informativo. Das minhas leituras de "O Republicanismo em Portugal", livro que admiro extraordinariamente pela exaustividade do tratamento(1ª ed.,1991) e pela sistematicidade do tratamento não retiro muito essa abordagem. Alusões, talvez. O "Entre Deuses e Césares" não conhecia, pelo que procurarei de imediato ver. Só o título já fala por si. Será mesmo obrigatório uma vez que estou publicando esta série. E parece-me que terei de corrigir o paralelo que fiz entre os dois historiadores. Aqui no O Ouriço, continuarei em tom mais ligeiro de blogue a abordar este tema que me parece decisivo. até pelas novas pontes que lança entre Iª e IIª república.

De Fernando Catroga a 18.05.2012 às 20:58

Caro Mendo Henriques

Disponibilizando-me para outras clarificações e troca de ideias, em relação ao que afirmou, só gostava de lembrar o que, em 1991, escrevi sobre o tema da laicidade e do laicismo: "o republicanismo vitorioso foi um secularismo, ou melhor, um laicismo militante" (O Republicanismo em Portugal, vol.1º p. 361). E recordo que o índice temático da edição deste livro remete a expressão "laicismo" para 54 das suas páginas.
Por sua vez, desde 1977, tento esclarecer o seguinte: não obstante os positivistas portugueses, a começar por Teófilo Braga, não terem seguido a versão ortodoxa da religião da Humanidade de Comte, é um facto que assimilaram a sua estrutura ritualista e funcional para, na linha da III República francesa, fomentarem cultos cívicos que acreditavam poderem criar um novo poder espiritual e, portanto, um novo consenso nacional. Quanto às continuidades salazaristas é matéria para uma longa conversa, mas que o meu capítulo "Ritualizações da História", que fecha "História da História" editada pelo Círculo de Leitores, já toca, ainda que em termos necessariamente resumidos.
F. Catroga

De Mendo Henriques a 19.05.2012 às 22:23

Caro Fernando Catroga
Obrigado, de novo. O que vou fazer é enviar-lhe os meus dois artigos no prelo ( do Congresso das ordens ( CLEPUL Gulbenkian, novembro 2010)) e da Humanitas (Catolica, fevereiro 2011)
Vou tentar ler parte do seu volume 2011 antes de terminar o 3º artigo ( já atrasado) Suponho que encontrarei seu email nas listas da UC,
Sim. A passagem de testemunho da "religião civil" 1ª república para o Salazarismo, vai-me dar muito trabalho mas é uma parte que, quanto a mim, ajuda a mudar a narrativa do republicanismo . Fico muito contente que já tenha dedicado ao assunto um tratamento, sendo que as descontinuidades com S. serão tantas quanto as continuidades, dado a atitude concordatária. Mas o importante é que há uma evidente relação .
A questão dos feriados trouxe tudo isto ao de cima , outra vez, embora na decisão governamental eu não tenha ainda descortinado um solução senão funcional e não ideologica.

Comentar post

Pesquisar

Pesquisar no Blog

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds