Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

O Ouriço

MENU

A caçada do rei de Espanha em África motivou hà um mês atrás um correr de tinta em jornais, revistas, rádios e televisões de Espanha e Portugal.

 

 

Lá porque se trata do chefe de Estado. Cá porque não temos Rei.

 

Fui apanhado neste turbilhão para declarações para o Diário de Noticias. Poucos sabem da minha atividade política enquanto apoiante de uma solução realista para a constituição portuguesa. Foi pois por indicação de um amigo que a Fernanda Câncio quis saber a minha visão sobre o pecado de João Carlos.

 

Parece me por isso ajustado voltar ao assunto nesta  minha coluna no Ouriço, porque a parte mais interessante da minha conversa com Fernanda Câncio não teve espaço no artigo que escreveu no Diário de Noticias de Domingo, 22 de Abril. Compreensivelmente pois foi uma análise das responsabilidades dos media e dos limites do publico e do privado. Foi uma tentativa de desenhar a linha que separa a mesma atitude se praticada por um qualquer cidadão da de uma figura pública, e, neste caso tentar saber quando se trata de “boas praticas” e de quando tem significado “politico”.

 

Infelizmente a minha conversa com a Fernanda Câncio foi interrompida pela A 24, estando eu nesses maravilhosos montes e vales vinhateiros do Douro por onde serpenteia a mais bela auto-estrada portuguesa, entre Lamego e Vila Real, a caminho de Paços de Ferreira para uma sessão comemorativa da Tribuna Pacense.

 

Ficamos por isso sem concluir como serpenteia essa linha que tantas dores de cabeça dá a jornalistas, Editores, relações públicas, advogados e juízes e que transforma um caso banal de um dia num caso de estado de uma vida.

 

Na verdade são os media que alargam ou estreitam esses canal de separação com o seu caudal de informação, noticioso primeiro, opinativo depois, agregador e curador.

 

São os media que decidem o que é publico e o que é privado, e a medida que essas esferas, publica e privada se vão sobrepondo por ação das informações publicadas o caso toma forma politica e novos contornos e implicações.

 

Dois casos práticos ajudam a perceber melhor. A recente questão da audimetria da televisão digital em Portugal mostra como uma questão de boas práticas, tratada durante anos como uma questão técnica se transformou numa questão politica por causa do valor da venda de um canal de televisão; um amigo contou me recentemente que no serviço publico que dirige puderam requisitar um carro de entre os apreendidos pelos serviços aduaneiros. Escolheu um antigo Honda em muito bom estado contra um muito mais recente mercedes; achou que seria difícil explicar aos colaboradores como é que num momento de dificuldade e tantas restrições se passa a dispor de um carro simbólico do poder e do bem-estar económico. Foi um ato de boas praticas porque o bom ato de gestão seria ficar com o mercedes.

 

As boas praticas apelam a auto regulação, a responsabilidade politica a regulação; e o regulador primário são os media, só depois os reguladores são os serviços públicos de fiscalização e em ultima analise os cidadãos.

 

Esta pirâmide comunicacional exige uma consciência e um conhecimento muito aturado por parte dos jornalistas das características e limites da sua atuação e do valor da sua visão.

 

É por isso que tem sido muito difícil debater a causa realista em Portugal já que o que é político facilmente é mascarado de boas praticas e vice-versa.

 

Aceitar um rei na república é uma atitude de modernidade, entrincheirar o rei num conto de fadas mais ou menos cor rosa mais ou menos responsável é uma armadilha para a democracia.

 

Por isso o caso de Espanha teria de ser visto nas proporções próprias e comparado a situação existente em Portugal. Apenas.

 

O que aqui queria deixar claro é que para os media as atuações privadas dos atores públicos são casos de boas praticas; passam a casos políticos quando estão investidos de uma representação e função pública. Acreditar que no caso da chefia de estado um presidente tem direito a uma reserva de vida privada e um rei não é como ignorar a revolução francesa, a declaração da independência dos EE UU da América, a declaração universal dos direitos do homem ou a convenção europeia. E é papel dos media estarem esclarecidos sobre estas diferenças e dos jornalistas não fomentarem a confusão.

 

A pessoa do rei de Espanha não esta isente de explicar se a ida a caçada é uma incongruência em relação aos apelos de contenção e de aceitação de restrições que fez. O que defendo é que tal não tem significado ou cariz político e portanto não se refere a instituição da chefia do estado, a realeza no caso espanhol.

 

Os dias que vivemos começam a ficar muito conturbados em relação a liberdade de imprensa e de expressão. Também aqui existem questões que são de boas praticas e questões politicas.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

Pesquisar

Pesquisar no Blog

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds