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O Ouriço

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Uma das mais difíceis estimativas que o grupo de especialistas a que eu pertencia tinha que fazer, era o efeito dos novos investimentos no desenvolvimento sócio-económico regional. Já há muito deixáramos o PIB. Pois a teoria nos dá valores, mas a prática mostra que fatores culturais, ocasionais e familiares trazem ações muito diferentes das expectativas racionais.

Quando o governo da Suécia decidiu mudar à força a maioria das Direcções-Gerais, para cidades com crescente desemprego, a uma distância de umas2,5 a3,5h de Alfa da capital, não imaginava as consequências positivas que isto traria. Para começar muitos burocratas não foram e trocaram de carreira. Mudaram-se os mais humildes, pessoas sem a arrogância que ainda caracteriza muitos chefes do serviço público em muitos países. Isto obrigou à informatização otimizando o tempo do cliente, o que trouxe menor custo com a administração pública e maior receita fiscal.

 

Menor poluição, maior eficácia

Em Estocolmo ficaram naturalmente, além do Governo e do Parlamento, algumas instituições ligadas aos negócios estrangeiros, como a Agência de Cooperação Internacional. Isto trouxe menor pressão às longas filas dos que queriam arrendar habitação na capital. Os que se mudaram da casa própria a venderam com facilidade. Os compradores puderam escolher entre continuar com o contrato que o anterior proprietário tinha com o banco e pagar a diferença ao vendedor, ou negociar um contrato novo, considerando o rendimento familiar. Com as novas ciclovias na região, o preço mais alto nos parkings centrais e os parkings gratuitos junto às distantes estações de comboio e de metro, muitos venderam os seus carros para reduzir a dívida ao vendedor.

 

A anterior queda na construção civil foi plenamente compensada pelo boom imobiliário nas cidades escolhidas, de40 a 50 mil habitantes.

Os chefes que tiveram que quinzenalmente ir à capital, passaram a usar as cadeiras vazias do Alfa, e acordar um pouco mais cedo para lá estar no horário habitual das reuniões.

 

Os estádios, restaurantes, centros, toda a infra-estrutura da cidade menor foi mais utilizada, trazendo também mais lucro às empresas locais. O que, por sua vez, aumentou a procura em p.ex. de produtos alimentares, calçados e roupas especiais, materiais de construção, nas lojas e fábricas de toda a região daquela cidade.

Estocolmo teve a sua população reduzida aos 9,5% do total do país, o trânsito auto caiu e a qualidade de vida melhorou.

 

A prática superou a teoria

O melhor aproveitamento de todos os recursos numa dúzia de cidades trouxe o aumento da procura nas regiões, que também teve as suas empresas melhor utilizadas, o que aumentou a competitividade delas, o que aumentou as exportações. A importação de automóveis caiu.

 

Hoje, 20 anos depois, a Suécia tem uma capital com excelente padrão habitacional e urbano, 6 cidades importantes, com 120 a 500 mil habitantes, que desfrutam de universidade, ópera, etc, da mesma qualidade da capital, e mais 15 cidades com quase as mesmas facilidades. O CP de lá, chama-se SJ, 100% estatal, dá lucro, o meio-ambiente é excelente, os autocarros usam biogás produzido pelas autarquias junto às ETAR e o PIB cresce(4,8% em 2011). Aumentou a competitividade das empresas que têm um dos custos salariais mais elevados da Europa e o IVA de 25%, e exportam mais. O bem-estar do cidadão superou em muito as estimativas dos economistas.

 

Este longo texto foi para exemplificar como uma decisão corajosa, impopular, que antevia custos elevados e problemas para o Estado, acabou por, pouco depois, render ao país muito mais do que o previsto, pois tinha ignorado fatores não-contabilizáveis.

 

Na próxima semana descreverei outra decisão governamental, noutro país, que os financistas de então criticaram, e que resultou numa clara melhora sócio-económica. Após detalhar casos concretos em outros países concluirei com a tese da complexidade do mundo real em que só ao trazer fatores não-contabilizáveis para modelos económicos, temos algo muito mais do que um transitório e fugaz crescimento do PIB.

 

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