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O Ouriço

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O Estado da Troika IV- Portugal e as crises

Paulino Brilhante Santos 27 Jun 12

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A economia portuguesa registou uma recessão, à época considerada quase como apocalíptica, de -0,8% de recuo no PIB no ano de 2003, tendo caído ligeiramente ainda em 2004, para recuperar apenas em 2005; em 2011, o PIB português terá registado uma queda de -1,1%, prevendo o Banco de Portugal que recue na cada de -3,1% no corrente ano de 2012. É também provável que a recuperação da economia portuguesa venha a ser mais tardia, lenta e débil do que nesta última grande crise de 2003/2004.

 

Nessa crise de 2003/2004, tal como na atual, já se tinha atingido o grau zero da política em Portugal.  Também nesse tempo, como de resto em crises anteriores, como tive oportunidade de verificar consultando blogues da época e jornais desse período, não havia alternativa senão sacrificar os mesmos do costume. O discurso ideológico do Grande Centrão já era o mesmo que hoje se usa. As opções da política governamental iam no sentido da luta contra a “rigidez” das “corporações” agarradas a “interesses mesquinhos” opostos ao superior interesse nacional de, com os indispensáveis “sacrifícios”, também ontem como hoje, “a repartir de forma justa e equitativa por todos”, salvar o País da crise.

 

Mas em 2003/2004 ainda se podiam discutir as medidas a tomar. Ainda era lícito debater quais os “sacríficios” que se poderiam impor aos portugueses. Em suma, ainda havia espaço para opções políticas. O facto de tais opções, na época como no momento presente, estarem obscurecidas pelas teorias tecnocráticas segundo as quais os “remédios” para fazer Portugal sair da crise seriam “meramente técnicos”, ainda não era tão evidente como é hoje, ainda que a propaganda do Grande Centrão sempre tentasse fazer crer que existiria apenas um amargo remédio da marca “FMI” ou da marca “Comissão Europeia”, insubstituível por qualquer genérico que, com pequenas alterações na posologia e combinação de doses, teria de ser tomado para que portugal conseguisse sair da crise.

 

Atualmente, os remédios constam do infamemente célebre Memorando da Troika com um nível de detalhe que nunca antes existiu em qualquer acordo ou compromisso financeiro alguma vez firmado pelo Estado Português com qualquer instituição financiadora internacional, nem mesmo com o sempre precavido e cauteloso FMI. Sempre que algo corre mal ou se revela impossível de executar ou ainda quando se regista alguma dúvida, só os altos sacerdotes de serviço ao Memorando sagrado é que, chamados a Lisboa, podem solucionar a questão, proferindo uma oracular interpretação sobre o que o Memorandum pretenderia estipular nessa eventualidade. Anunciam depois tal revelação oracular urbi et orbis, da base de uma colina sagrada que lhes pertence num templo da religião moderna da economia a que acorrem os habituais fiéis, os jornalistas e comentadores económicos de todos os órgãos de comunicação social principais do País. Como é apanágio de qualquer oráculo que se preze, não falam claro, antes usam uma linguagem cifrada, ainda para mais numa língua usada para a celebração dos ritos dos sumo sacerdotes da religião económica, a que os leigos dos cidadãos portugueses não logram aceder, mesmo com tradução simultânea de alguns noviços e iniciados menores bem intencionados. Mas falam com autoridade e proferem as palavras do Poder. O Governo e a suposta oposição do Grande Centrão, cumprem, até porque, tal como muitos dos recém nomeados pelo Governo, pela sua competência e méritos, naturalmente, e a rogo dos acionistas privados, para grandes empresas públicas, mormente do setor elétrico nacional, muitos deles passaram por Macau e são íntimos dos chineses, bem sabem que, segundo a consagrada fórmula oriental, “ouvir é obedecer”.

 

E eis como a Troika atua mesmo como a desvelada sobrinha favorita da Tia Tina. Tal como a sua Tia só tem de ordenar porque os mandatários, obedientemente, sabem bem que “There is no alternative”. 

 

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