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O Ouriço

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Ah, a moral!

Artur de Oliveira 16 Jan 12

 

 

 

 

Ah, a palavra «moral»! Sempre que aparece, penso nos crimes que foram cometidos em seu nome. As confusões que este termo engendrou abarcam quase toda a história das perseguições movidas pelo homem ao seu semelhante. Para além do facto de não existir apenas uma moral, mas muitas, é evidente que em todos os países, seja qual for a moral dominante, há uma moral para o tempo de paz e uma moral para a guerra. Em tempo de guerra tudo é permitido, tudo é perdoado. Ou seja, tudo o que de abominável e infame o lado vencedor praticou. Os vencidos, que servem sempre de bode expiatório, «não têm moral».
Pensar-se-á que, se realmente glorificássemos a vida e não a morte, se déssemos valor à criação e não à destruição, se acreditássemos na fecundidade e não na impotência, a tarefa suprema em que nos empenharíamos seria a da eliminação da guerra. Pensar-se-á que, fartos de carnificina, os homens se voltariam contra os assassinos, ou seja, os homens que planeiam a guerra, os homens que decidem das modalidades da arte da guerra, os homens que dirigem a indústria de material de guerra, material que hoje se tornou indescrivelmente diabólico. Digo «assassinos», porque em última análise esses homens não são outra coisa. A sangue-frio, anos antes de estalar qualquer conflito, preparam-se para obrigar os outros a obedecer-lhes; enumeram mentalmente todas as formas concebíveis de horror e destruição, e dedicam-se à tarefa calmamente, deliberadamente, implacavelmente, esperando apenas pelo momento certo para levarem à prática os seus planos. 
(...) Confrontados com uma nova guerra - porque uma guerra engendra sempre outras - não poderemos esperar que estas «vítimas» se mostrem caridosas e magnânimas. Tendo sofrido contra a sua vontade, exigirão inevitavelmente que os seus filhos e filhas paguem o mesmo tributo... Portanto, o que eu digo é que, se esta escravidão de sacrifício e vingança não é imoral, se não é a forma mais absoluta da imoralidade, então esta palavra não tem sentido. Não estamos a ser destruídos e corrompidos pelos escritos pornográficos ou obscenos; estamos a ser destruídos e condenados, em todos os sentidos, pela guerra e pelo planeamento da guerra. 

Henry Miller, in "O Mundo do Sexo"

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2 comentários

De sofia a 16.01.2012 às 09:40

Bom dia Artur, o meu primeiro comentário n' "O Ouriço", para parabenizar a equipa pelo conjunto de textos aqui presentes.
Quanto à moral...será que existem tantas morais como éticas?!
Um beijinho de boa semana,
Sofia

De Artur de Oliveira a 17.01.2012 às 23:38

Morais hà muitas, bom senso que é bom, `tá quieto. lol Boa semana e continua a acompanhar-nos. :)

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