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Blogosfera que Pica
Mendo Henriques 4 Nov 12
Porque estamos sempre a dizer obrigado e desculpe? Tentei dar uma primeira resposta num artigo deste livro que José Barrientos publicou em Madrid
A semântica do “obrigado e desculpe” é muito reveladora. Estamos sempre a dar graças e a agradecer, a pedir desculpa e a reconhecer uma dívida, em todas as línguas. ‘Gracias’ e ‘Perdón’ em espanhol.‘Thank you’ e ‘I am sorry’ em inglês. ‘Merci’ e ‘Pardon’ em francês. ‘Danke’ e ‘Entschuldigung’ ou ‘Es tut mir leid’ em alemão. Estas expressões exprimem os atos de reconhecimento pelos quais estamos "obrigados" ou em dívida para com os outros.
Desde a mais profunda gratidão até à banalidade polida, os atos de reconhecimento começam por ter um caráter gratuito em que se exprime a relação inicial da sociedade entre nós e os outros. Só depois começam a funcionar como um reforço psicológico, ou uma obrigação sociológica de etiqueta, de boas maneiras, rituais que aprofundam a relação em sociedade. Estamos ainda na fase do agradecimento "em que não há palavras para o exprimir" nem "há dinheiro que o pague".
Finalmente, intervém a autoridade que institui a obrigação de agradecer. É o caso dos pais que obrigam os filhos ainda crianças a agradecer presentes, retirando o valor ético ao ato mas incutindo-lhes moralidade. A autoridade acaba por adquirir valor jurídico com as dívidas para com os outros, que "não podem deixar de ser pagas" e que o direito codifica e sanciona. E quando os estados, com o aparelho de poder, tomam conta do caso, formalizam-se as dívidas soberanas que nunca se resolvem por si, mas exigem um regresso às origens da sociedade que não se formou para criar dívidas mas para trocar bens e relações.
Esta ligação entre ética e economia é para aprofundar e agradeço sugestões: Lá está: mais um "obrigado".
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