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O Ouriço

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Mais do que o Orçamento do Estado, enquanto documento condicionador de políticas e de projetos e modelos empresariais ou pessoais, mais do que o seu impacto sobre a vida das famílias e das empresas, o que assistimos nas últimas semanas, desde 7 de setembro, é a um imenso problema de comunicação que está a pôr os portugueses numa pressão psicológica sem precedentes. Nem a guerra em Africa, onde os objetivos poderiam ser condenáveis ou desastrosos, mas ao menos a comunicação era clara.

E a opacidade da informação, ainda por cima confusa e errática, mina os alicerces da democracia, com os mesmos efeitos da censura e da propaganda; os cidadãos começam por desconfiar que nunca lhes contam tudo, e prosseguem vendo em cada anúncio apenas um ato de condicionamento.

A conferência de imprensa do Ministro das Finanças é o mais recente ato desta tragicomédia.

A administração pública portuguesa perdeu há muitos anos a capacidade de se apresentar transparente e explicadamente aos cidadãos; o boato que mina as nações em momentos de tensão, foi substituído pelas redes sociais com uma capacidade de mobilização efetiva, ainda que com resultados mais aparentes do que efetivos; o cidadão vê-se assim à míngua de informação credível, manipulado por forças que de forma dissimulada, mas organizada, procuram lançar a anarquia e o caos social.

Infelizmente até o Presidente da Republica contribui – seguramente involuntariamente – para este estado de guerrilha comunicacional.

O cidadão, confuso, vira as costas à informação, desinteressa-se das atividades dos seus representantes eleitos e reage quando no final de janeiro recebe o recibo do ordenado.

 

 

Perante medidas tão complexas e tão impactantes para todos os portugueses, o Governo deveria já desenvolver uma campanha de informação pública, expondo as fórmulas de cálculo, os algoritmos e outros modelos matemáticos que vão guiar a vida dos portugueses, pelo menos por mais um ano.

 

Escrutinada por jornalistas e políticos, comentada pelas associações da sociedade civil, essa imprescindível campanha de informação pública conduziria ao debate – sério e honesto – que colocaria no campo das ideias (e dos ideais) o futuro de Portugal, retirando da simples palavra confusa as dúvidas e temores de futuro, para como ainda tão recentemente disse Adriano Moreira, devolver à palavra a força das palavras.


Na semana passada importantes situações e decisões laborais tiveram lugar na indústria dos media impressos. Pela sua importância e porque, apesar dos esforços em curso para melhorar a situação financeira das empresas através de um importante programa de apoios públicos, novas situações ocorrerão nos próximos tempos, condenso para os meus leitores uma entrevista que sobre estas questões dei recentemente à revista especializada em Media “Meios & Publicidade”.

 

Em qualquer actividade processos de despedimento são sempre momentos difíceis, que nenhum empresário quer usar. Nos jornais esses momentos são mais dolorosos porque a produção de conteúdos jornalísticos não pode ser feita sem jornalistas e é por isso que estes processos ocorrem habitualmente por encerramento ou reestruturação da empresa.

 

No jornalismo o que deve contar é a qualidade, já que a quantidade só é importante como expoente da diversidade. Ter muitos jornalistas e não dispor dos meios para lhes proporcionar condições de trabalho adequadas, é tão prejudicial como ter poucos jornalistas que, ao terem que fazer tudo, podem ter de prescindir da qualidade do seu trabalho.

 

Acredito que é possível fazer jornalismo (digital) de qualidade com menos jornalistas, se os objectivos de cobertura e de profundidade forem preservados e renunciando à quantidade de temas tratados, quando não se está sozinho no mercado, o que é, por definição, a situação do mundo digital.

 

O futuro do jornalismo em Portugal passa por jornalistas bem preparados e por empresários conscientes das dificuldades e das limitações do mercado, que ofereçam ao público um produto de qualidade e interessante mas, sobretudo, independente e com autonomia de processos de escolha e de acesso as fontes de informação.

 

Poderemos durante períodos difíceis da história ter menos suportes e menos jornalistas ativos mas se a qualidade e a credibilidade dos conteúdos forem preservados, o jornalismo português continuará vibrante e credivel, cumprindo um serviço de interesse público.

 

A publicidade tem ainda um longo caminho de apoio a dar aos jornais e as revistas, o que está desgastado é o modelo das transacções publicitárias e a timidez com que – e não só em Portugal – se tem procurado novos modelos de comunicação comercial capazes de, no respeito das leis e dos princípios éticos, mobilizarem cidadãos e consumidores para um mercado cada vez mais, responsável e difícil.

 

Acho é que os jornais diários em papel se vão manter por muitos anos, provavelmente saindo apenas quatro vezes por semana (o mínimo internacionalmente aceite como periodicidade de um diário) e complementados por ofertas digitais multiplataforma.

 

Assim gasta-se menos papel, distribui-se melhor a publicidade tradicional e oferecem- se a anunciantes e leitores oportunidades de contacto criativas e flexíveis. Tenho muita pena que o” I” não tenha aliado à sua reconhecida qualidade gráfica este modelo de negócios, logo desde o seu lançamento.

 

A remuneração dos conteúdos tem de ser feita, em primeiro lugar, através dos direitos de autor, depois com assinaturas multiplataforma e flexíveis e com capacidades de armazenamento, que permitam ao leitor, a qualquer momento, reconstituir tudo o que leu sobre uma notícia de forma completa. Interrelacionar e a curação «curator» são os novos atributos do jornalismo profissional online, capaz de revigorar o interesse e o desejo dos leitores de pagar pelos conteúdos.

 

Quanto a quem oferece, é preciso distinguir quem oferece, estipulando um preço que não cobra por estratégia de mercado de quem oferece, porque usa conteúdos alheios que lhe não custaram nada e está apenas a destruir o mercado e confiança dos leitores na marca que produz e distribui o conteúdo (jornalistas/jornais – revistas).

 

Como já disse atrás, são necessários novos modelos de publicidade, não só do ponto de vista do financiamento da negociação mas, sobretudo, adaptados à exploração das capacidades do mundo digital multiplataforma. E é por isso que a credibilização dos conteúdos é essencial, distinguindo de uma forma clara e inequívoca os conteúdos que resultam da actividade jornalística editada, dos que transitam nas redes, apenas como consequência do acesso livre e aberto a todos os cidadãos para poderem dar as suas opiniões e informações.

 

Tratar a área digital como um negócio e não como uma modernice imitação ou fatalidade e isto quer dizer inovação e formação profissional.

 

Os três últimos anos foram de autonomização e adaptação dos conteúdos digitais às reais necessidades dos consumidores e as ofertas de novos equipamentos e plataformas abriram possibilidades impensáveis. A velocidade da inovação tecnológica levará ainda muito tempo para ser apanhada pela criatividade dos conteúdos, pelo que será muito difícil por agora considerar que pouco haveria a melhorar. Mas esse é o grande desafio do jornalismo hoje, é como se num dia passássemos do chumbo ao offset, do preto e branco às cores, dos acabamentos primários a formatações muito sofisticadas…

 

Sinceramente sim, desde que acompanhados de todas as possibilidades de interconexão e curação que o mundo digital oferece; não, se fosse apenas ler os conteúdos do papel em plataformas digitais ou novos equipamentos.

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