Não é que me tenha esforçado muito para escrever este post (demorei menos de 5 minutos a fazer um copy+paste), mas como matemático, sofro de dois terríveis defeitos: Sou preguiçoso (porque só fiz um post de 11 linhas) e só olho a números (basta repararem por todas as minhas publicações por aqui).
E tudo porque os senhores de esquerda e de direita não a chegaram a um consenso sobre os verdadeiros culpados de estarmos a pagar juros altíssimos pelo nosso pedido de ajuda externa aos senhores da TROIKA, o que é perfeitamente normal pois nem o aluno (
Vítor Gaspar) e o professor (
Miguel Beleza) estão em consenso nesta matéria.
Vamos primeiro voltar à questão que motivou toda esta polémica: Baixa rating de
BBB+ para BB.
- Passando pelos países com AAA, apenas a Alemanha não tem expressa a “perspectiva negativa” que já foi apontada sobre os outros três: Holanda, Luxemburgo e Finlândia;
- Por via da metáfora da moeda inexistente, as dívidas a pagar pelos respectivos povos foram inflaccionadas em mais uns de milhares de milhões de euros, já para não falar das colossais dívidas soberanas dos países periféricos;
- Estima-se que no final de 2013, as dívidas soberanas de Irlanda, Portugal e Itália sejam da ordem dos 120% do PIB.
Ao contrário do que anda a ser dito pela blogosfera, Portugal foi extremamente benificiado com esta saraivada de downgrades, pois as atenções foram agora desviadas para Espanha, Itália e Hungria.
No caso italiano (too-big-to-fail), a dívida soberana ronda os 2 Triliões de dólares de dívida soberana. Mesmo com a mudança de governo e já com as políticas de austeridade em curso, a situação de espanha, que quase foi obrigada a pedir ajuda externa em Julho, é semelhante à de Portugal nos finais de Março 2011. Como Bélgica e França estão a caminhar para a nossa situação (embora não pareça,Itália e Hungria estão de momento bem piores que nós) e Luxemburgo seja uma economia bastante pequena, a haver resgate financeiro na zona euro, dos triplo A, apenas Alemanha, Finlândia e Holanda estariam em condições de resgatar Itália.
Ora bem: Se Áustria tivesse mantido o seu triplo A, o PIB dos 4 países juntos seria de 3.5 triliões, logo não contando com a Áustria, é matematicamente impossível resgatar uma economia da dimensão de Itália.
Este problema para além de matemático, é também um problema político e porquê? Porque pois na última cimeira europeia, a ministra das finanças finlandesa, Jutta Urpilainen
levantou sérias objecções à futura participação da Finlândia em futuros resgates. Ups?!
No pior dos casos, os líderes europeus terão de optar por uma solução mais conciliadora: Aplicar escrupulosamente a
iniciativa de Viena. Pelo menos, esta solução agrada tanto a finlandeses como a
agências de rating.
Passemos agora aos bancos:
A encruzilhada onde a Alemanha se está a meter inconscientemente é algo que merece uma séria reflexão, tendo em conta a sua exposição à banca europeia. Ora vejamos:
O
Unicredit, o segundo banco Italiano mais exposto à divida soberana, é dono do
HypoVereinsbank (segundo maior banco Alemão) e do
Bank Austria (o maior banco Austríaco), pelo que a bancarrota italiana induziria um
efeito borboleta na banca alemã, levando ao colapso de toda a banca alemã, e por contágio, a banca americana corriria o risco de entrar em insolvência, indo ao encontro da recente visão do profeta da desgraça sobre o
cenário sombrio da economia dos
states para 2012 assim como
abrandamento abrupto do
crescimento económico na China.Portanto, e discordando em parte com o que
Helena Sacadura Cabral escreveu em Delito de Opinião, a S&P limitou-se a fazer o seu trabalho dizendo a verdade após ter feito o teste do algodão. Entre outras coisas, o rating serve para medir a probabilidade de um país ser forçado a uma
reestruturação. No caso do objectivo primordial da zona euro, seja salvar a união monetária, a solução mais ortodoxa para evitar a hecatombe mundial, passaria por resgatar Itália e colocar Portugal, Espanha e Irlanda fora zona euro, pela razão que já apresentei acima, a menos que se faça a recapitalizão da banca europeia em velocidade cruzeiro (que me parece ser mais que inevitável), pelo menos para o caso da banca francesa e provavelmente na banca belga, de modo a evitar que dois dos principais bancos franceses,
BNP Paribas & Crédit Agricole assim como o banco franco-belga
Dexia fiquem piores que queijo roquefort bolorento.
No caso dos nossos bancos, não sei se isto poderá ter um efeito em espiral na dívida pública portuguesa pois como já avisei no início: sou matemático, sou preguiçoso mas não sou banqueiro e muito menos consultor financeiro para vos esclarecer sobre este assunto.
Onde está o cúmulo da bipolaridade? Perante a pressão da S&P a duas semanas da cimeira europeia, esperava-se que os líderes europeus tivessem um pouco de tento na língua:
- Por exemplo, o BCE exprimiu publicamente o seu parecer dizendo que “foi um golpe devastador”, particularmente “problemático” em Itália;
- Por seu turno, Merkel afirmou que “agora temos o desafio de implementar o pacto fiscal e o fundo de resgate permanente com maior rapidez”.
- Para juntar mais lenha à fogueira, o Governador do Deustche Bank veio-se manifestar publicamente à dias atrás após BCE ter triplicado a compra de dívida como resposta aos cortes de rating pela S&P.
Isto é, Merkel, Van Rompuy entre outros líderes europeus queixam-se pelo facto da S&P ter servido de polígrafo, escrevendo o que eles pensam mas não dizem. Basta procurarem o pacto fiscal que visa a uma rectificação do tratado de Lisboa e lerem-nos nas entrelinhas, contextualizando com as suas declarações de Setembro 2011 até hoje.
Por esta razão reitero o que já foi dito por
Luís Rego: a S&P prestou um grande serviço a Portugal, e a todos os periféricos da zona euro. Pena que o país assim como o
nosso Primeiro só agora tenha acordado para esta injustiça, mas não o TENHAmos feito quando nos baixaram o rating de AA para BBB+, pois este SIM, foi TOTALMENTE INJUSTIFICADO e precipitou o nosso pedido de ajuda externa em Abril 2011, muito em parte devido ao facto da Alemanha ter recuado na sua estratégia de alargar o fundo de resgate em Março de 2011, devido a um chumbo...Os gráficos abaixo são parte da explicação.
Como diria o escritor austríaco Karl Krauss: "os políticos dizem mentiras aos jornais e depois acreditam no que lêem nos jornais". E por aqui me fico.
God bless Portugal
God bless our Politicians
God bless Europe
FIM!
OBSERVAÇÃO:O último gráfico representa os juros da dívida Portuguesa de Outubro de 2010 a Março de 2011. Em Setembro 2010, quando os juros atingiram o primeiro pico, fora anunciado o PEC III, que serviu para preparar terreno para o Orçamento de Estado 2011, aprovado em Novembro 2010 com os votos a favor do PS e abstenção do PSD. No fina de Novembro 2010 ao início de Dezembro 2010, a juros da dívida portuguesa desceram substancialmente. Para fazer face ao deficitde financiamento para 2011, o IGCP anunciaria no final um leilão de 20 milhões de euros em obrigações do Tesouro. Nesta altura os juros da dívida portuguesa estavam entre os 6,889% e os 7,913%. Nesta altura défice orçamental anunciado pelo governo estimava-se abaixo dos 7,3%. EXERCÍCIO: Comparar juros da dívida portuguesa de há um ano atrás com os juros da dívida espanhola de agora assim como o défice do estado espanhol.
CURIOSIDADES:
No PORTUGAL RURAL - A OPORTUNIDADE, capítulo A ACTUAL CRISE ECONÓMICA, há detalhes da manipulação das bolsas, incl. o HFN, High Frequency Negociation, jogo puro, ilegal, que a polícia nem os reguladores conseguiam compreender, devido a alta velocidade dos processadores modernos. Foi na bolsa de Estocolmo que isto parou na polícia, que a explicou ao NYSE, que até agora nada fez. Nas minhas colunas no VISÃO ONLINE ALTAVISA explico alguns dos truques de manipulação usados pelos 'piratas'.