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Blogosfera que Pica
Helena Marques 7 Mar 14
Miguel Sousa Tavares afirmou na SIC que historicamente a Crimeia pertence à Rússia, o que não é verdade, a não ser que para MST o tempo e a história se meçam em nanosegundos. A Crimeia passou a fazer parte do Império Russo em finais do século XVIII, mais exactamente em 1783, altura em que as tropas russas comandadas pelo general Suvurov derrotaram os Tártaros descendentes de Gengis Kahn, que já lá habitavam desde o século XIII, e pagavam tributo aos Turcos, depois destes os terem derrotado; do outro lado era ocupada por genoveses, antes, tinha sido ocupada por dórios, ''jônios de Mileto em Teodósia e Panticapeia (também chamado Bósforo'', gregos (Wikipédia), mais tarde, foi ocupada pelo Império Romano, durante os séculos seguintes a Crimeia foi ocupada por vários povos, entre eles os mongóis, e, como já disse, só por fim, já no século XVIII os russos derrotaram o povo Tari, que passou a fazer parte do povo russo.
Miguel Sousa Tavares oblitera por completo a Guerra da Crimeia, que se deveu à vontade expansionista do Czar; foi durante esta guerra que ficou célebre a enfermeira inglesa, Florence Nightingale, durante o terrível cerco a Sebastopol, onde soldados ingleses e franceses sofreram atrozmente, por ferimentos e surtos de doenças muitos graves que dizimaram milhares de soldados ou puseram outros à beira da morte.
Os russos, por fim, perderam a Guerra da Crimeia e a 30 de Março de 1856 assinavam o Tratado de Paris, em que, entre outras coisas, perdiam o direito de ter qualquer tipo de bases ou forças navais no Mar Negro. Entretanto passados anos houve uma nova guerra contra os turcos, que durou até ao século XX, tendo sido a primeira guerra nos Balcãs do século.
Também no século XX, e depois da Revolução de Outubro, a Crimeia volta a pertencer desta feita ao Império Soviético, a Conferência de Ialta, foi lá realizada.
Durante a II Guerra Mundial a Crimeia foi barbaramente atacada pelos alemães e resistiu de maneira feroz, ficou célebre a resistência à tomada de Sebastopol, mais uma vez; quando em 1944 a Crimeia foi libertada do jugo nazi, a população tártara foi alvo de deportações, Estaline, dizimou-a enviando-a para os Gulags.
Até ao tricentenário da unificação da Rússia a Crimeia foi governada pela República Socialista Federada Soviética, Khrushchev ofereceu-a como presente à Ucrânia para celebrar a data, começando, a partir daí, a fazer parte da RRS. Com a queda do Império Soviético a Crimeia passou a fazer parte da Ucrânia independente com ressentimentos por parte da população maioritariamente russa, ortodoxa. Contudo, a derrota nas eleições dos nacionalistas fez com que esses ressentimentos aparentemente acabassem, e a ameaça de um conflito armado, entre a Ucrânia e a Rússia, com bases navais estacionadas no Mar Negro, tenha sido posto de parte; infelizmente para ressurgir agora.
Resta dizer que na parte ocidental, a população é maioritariamente católica e fala ucraniano.
Com este texto não queria tomar partido nem de nenhum país envolvido, nem sequer politizar, nem sequer li qualquer artigo que me elucidasse sobre qual é a posição dos líderes da Crimeia, que necessitam da Ucrânia para as necessidades mais básicas: Alimentação, electricidade, água, etc., que, provavelmente, terão que aceitar qualquer que seja o desfecho que este assunto, tão delicado, tenha. Sem dúvida que Putin foi contra os Direitos Internacionais no que diz respeito à soberania de um país e contra o que assinou, quando entrou na UE, sobre o mesmo assunto. Terão, talvez, que aceitar viver num Estado dentro de outro Estado, ou num pior cenário, se a Rússia invadir a Ucrânia, neste jogo, a Crimeia não passa de um mero peão. Esperemos que ganhe o bom senso, e que o Sr. Putin não esteja nostálgico da Velha Ordem Mundial.
Queria tão somente repor a história, quem ouviu MST, dá ideia que a Crimeia pertence há centenas de séculos à Rússia o que não é exacto.
Se para o Miguel Sousa Tavares cerca de três séculos é ''pertencer historicamente'' a um país para a História não é.
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