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Blogosfera que Pica
Mendo Henriques 4 Set 18
Diário Romeno 18 a 24 de junho de 2018
Aos meus amigos Bogdan Duca, Ioan Dura, Dan Simbotin, Cornelia Gasparel e Florina Hagara
A cidade portuária romena de Constanza está na encruzilhada de civilizações. Na Antiguidade a Tomis dos romanos foi o local de exílio do poeta Ovídio, sendo um dos focos do Ponto Euxino (o mar hospitaleiro) dos Gregos. A história antiga, medieval e moderna pela qual passou deixou-a bem situada na atualidade para ser um ponto de encontro de experiências culturais, nela se mantendo minorias turcas e judaicas no seio da população cristã ortodoxa.
A série de conferencias levadas a cabo pela Universidade Ovídio com o apoio do arcepiscopado de Constanza desde 2015 e organizadas pelo professor Ioan Dura e sua equipa são assim um momento de reconhecimento do elemento dialógico que está na génese da cidade e da região do Dobrudja, em geral.
A 4ª conferencia em junho de 2018 sob o titulo de "Identity & Alterity Religion in Global Society" destacou que a filosofia e a teologia contemporâneas ganham muito com a abertura de um pensamento que não se deixa encerrar num sujeito finito nem infinito de discurso, antes procura a relação entre ambos.
Os participantes de diversas especialidades filosóficas, vindos de Europa, América, Ásia, Rússia, cristãos de varias confissões e islâmicos, alguns deles sacerdotes, puderam assim partilhar o pensamento dialógico com diversidade suficiente e mesmo multiplicidade de posições dentro de cada região. Os fenómenos culturais da religião foram compreendidos sem os obstáculos habituais do fideísmo e cientismo, ou seja: falou-se e viveu-se da experiência humana de participação na alteridade divina, reconhecida e narrada como genuína seja qual a sua verdade final, sem se cair no sentido corrente de religião como experiência subjetiva de fé ou objeto de estudos culturais.
Esta convicção afirmou-se em horizontes culturais distintos e com a possibilidade de fundir horizontes. Vimos como a cultura filipina tem a noção de kapwa, que significa reciprocidade nas relações; na Índia as experiências das minorias católicas são importantes. Os participantes russos destacaram a noção de comunidade (sobornyi). Eu destaquei a importância das religiões escatológicas, em particular o cristianismo, em promover a visão da democracia; outros conferencistas falaram de comunidade face às ameaças dos nacionalismos étnicos, sofrimentos imerecidos e das tecnologias não dominadas.
Mendo Henriques 9 Jun 12
Recebi do sr Paulo Sousa Costa um texto extraído do romance de Joel Neto “OS SÍTIOS SEM RESPOSTA”, Porto Editora 2012 sobre o futebol. E respondi, talvez por ser sábado de manhã, embora tivesse outras tarefas mais urgentes. Afinal a minha sugestão de é preciso que a Seleção Nacional perca para que vençam outras coisas mais importantes tinha que despertar reacções. Curiosamente, como avisou o Pedro Policarpo, somos muitos mais a dizer isto do que o contrário, até agora. Basicamente o que Joel Neto diz é que o sentido da sua vida pessoal resulta de assistir a jogos de futebol: "Nenhuma literatura alguma vez fez isto por mim. Nenhuma poesia, nenhuma arte, nenhuma filosofia. Fê-lo o futebol."
Fiquei curioso de saber porquê e respondi-lhe assim.
Caro sr. Joel Neto:
Não partilho de modo algum o lamento do intelectual contra o futebol . Pessoalmente, aprecio os elementos positivos do futebol tal como o espírito de equipa, a competividade, o cultivo do corpo, o tirar das misérias os “quaresmas” deste mundo bem como o relevante trabalho feito pelas escolas de futebol em relação a iniciados. Existe ainda uma indesmentível estética no desempenho do jogo e, num grau já mais subjetivo, na imponência dos estádios. Sobretudo, o futebol dá alegrias. Além disso, eu tenho a obrigação de conhecer a ligação entre futebol e política, ligação que vem pelos menos desde os tempos em que, em Bizâncio pelo ano de 500 d.C, as quadrigas verdes, vermelhas e azuis e de outras cores disputavam a vitória com o apoio de clientelas urbanas politizadas. Até o imperador Justiniano tinha equipa-partido (por sinal o verde) .
Repito. Sou contra o lamento intelectual contra o futebol como jogo jogado. E faço estas considerações porque, como 99% dos portugueses, também eu joguei futebol. Ou, talvez devesse dizer “até eu joguei futebol”. Em tempos, alinhei a defesa esquerdo numa das equipas do colégio ( Maristas) porque chutava com o esquerdo e era caneleiro o suficiente. Mas não era grande coisa, não. Vi um só desafio, o Portugal Rússia no velho José Alvalade. Ou talvez um outro no Jamor, não sei qual. Assisti a inúmeros jogos na televisão. Joguei o meu futebol de praia e de quinta com os meus filhos e familiares. Joguei em professores contra alunos e, na fase da barriga a crescer, até arbitrei um jogo entre equipas da universidade.
Contudo, o futebol espetáculo e o futebol investimento que se apoderou das equipas desportivas pouco tem a ver com o desporto amador de amigos ou de praia, ou olímpico. Afinal esse futebol da Liga dos Campeões e dos inúmeros campeonatos profissionais é apenas um segmento da sociedade neo-liberal. O neo-liberalismo manifesta-se nos heróis tacanhos – ser bom com os pés deixa uma pessoa abaixo da realização integral com o corpo e a consciência; não se confunda isso com ressentimentos contra os jogadores milionários: eles são bons com os pés, pronto. Como se diz ne sutor ultra crepidam poder-se ia dizer, ne lusor ultra caligam. Manifesta-se, ainda, no negócio não regulado porque o mercado das transferências é dos mais opacos que nós conhecemos. E manifesta-se na total ausência de ligação entre as proezas futebolísticas e o desempenho geral da sociedade. Muitos dos grandes jogadores são exportados por países pobres, ou setores pobres da sociedade.
Dito isto, parece-me que o autor do texto, Joel Neto, sofre de paranóia emocional num grau socialmente aceitável mas insustentável como modelo para a sociedade. A atitude manifestada pelo sr Joel Neto não tem nada de especial. Nem é isolada. É comum na prosa lírico-asfáltica da imprensa desportiva embora ele se tenha expressado com recorte literário acima da média. Mas isso só agrava o seu caso. Faz parte da crise da Europa alguém que escreve "Nenhuma literatura alguma vez fez isto por mim. Nenhuma poesia, nenhuma arte, nenhuma filosofia. Fê-lo o futebol." O lado bom da frase é que ele conhece literatura, arte e filosofia. O lado mau da frase é que dele se apoderou a emoção do futebol - a que outros chamam fé, esperança e amor, numa litania de epítetos religiosos que faria corar de prazer qualquer namorada a quem fossem dirigidos – de um modo tão avassalador que deita abaixo outras experiências humanas.
O sr. Joel Neto não faz mal ao mundo com esta sua paranóia emocional sobre o futebol. Eu receio é que faça mal a si mesmo. Após considerações várias sobre as emoções de alegria, amor etc. que o futebol nele despertou, ele diz assim : “E dedicar-lhe um romance, bem vistas as coisas, é pequeníssima penitência para tão grande milagre.” Aparte a paradoxal pseudo teologia invocada (quem é que se lembra de fazer penitência por um milagre???? ) quem investe tanto numa só experiência sofre de alguma paranóia de tipo emocional. Num grau socialmente aceitável, repito. Mas também culturalmente criticável. Se eu quisesse usar um palavrão filosófico diria que o sr Joel Neto tem o futebol como única experiência transcendente. O que ele faz é comunicar-nos a sua experiência de jogos assistidos. Seria interessante que o sr. Joel Neto, em vez de pensar só em “si”, pensasse no “outro”. Olhe que o mundo é maior que os seus jogos de futebol. Olhe que há mais coisas no céu e na terra que essa sua experiência. Olhe que cada um pode e deve ir tão longe quanto o seu ânimo o levar. Olhe que só é possível a sedutora manifestação do futebol , ou mais exatamente, de Espectáculos Desportivos de Sociedades de Investimento – porque é sustentada por uma sociedade laboriosa, sonhadora, pensadora que se aplica a ganhar a vida com a economia e a dotá-la de sentido com as ciências e as literaturas. Despois, só depois, é que pessoas como o sr. Joel Neto podem dedicar algum tempo aos lazeres futebolísticos que tanto apreciam ver do sofá - e a comunicar as suas experiências pessoais . Se aceitar isto, sr Joel Neto, a sua paranóia emocional ficará um bocadinho mais aceitável. Se não, temos de a combater ainda mais porque ela distorce tudo aquilo porque morreram os que criaram o Ocidente e pelo que a vida vale a pena ser vivida. E não é o seu querido futebol, não!
Mendo Henriques 17 Mai 12
Estou a acabar de escrever o segundo artigo académico (de uma série de quatro) sobre o Republicanismo como Religião Civil.
A ideia central é simples. Ao contrário do que se diz entre especialistas, sobretudo em Coimbra com Fernando Catroga e em Lisboa com Fernando Rosas, o republicanismo português foi lacista e anti-católico por circunstância mas favorável à religião da humanidade por princípio.
Mas mais do que laico, o republicanismo de Teófilo Braga, Magalhães Lima, António José de Almeida et al. foi apologista de uma religião civil, com rituais de exaltação da nova sociedade sagrada, exigência de registo, casamento e enterro civil, comemoração de centenários, culto das personalidades, toponímia nova, culto aos mortos, soldados desconhecidos. Toda esta exaltação coletiva tem bases conhecidas em Rousseau, Robespierre, Comte, Littré, etc.
A parte mais surpreendente é que a religião civil republicana foi herdada por Salazar que a tornou compatível com o catolicismo e lhe enxertou o culto da sua personalidade. Tinham mudado as circunstâncias
Francisco Cunha Rêgo 16 Mai 12
Em Fátima, este ano, o mês de Maio viu uma enchente extraordinária, julgo por causa da crise, e apesar dela, com toneladas de velas compradas e incineradas em nome de desejos cumpridos ou por cumprir.
Alguns têm vindo a anunciar a secularização, a não-religiosidade, etc., da nossa sociedade, mas não hesitam em chamar a um grande Estádio de Futebol 'A Catedral', esquecendo que a religiosidade pode brotar quando somos colocados perante, por exemplo, eventos trágicos ou sublimes, sem sabermos de onde vêm e como acabam. É algo que existe em todas as culturas e não desaparece. Modifica-se. Adapta-se. Tem novas formas de revelação.
A insegurança e a angústia das pessoas encontra na religiosidade um conforto. Como hoje é mais fácil construir um percurso individual, a diversidade de vidas existentes na nossa cidade, bairro, rua e prédio, leva à existência de Igrejas diferentes, ou com atitudes diferentes.
De salientar que Alfredo Teixeira coordenou um estudo recente sobre Identidades Religiosas em Portugal, o qual refere a diversidade em que o indivíduo hoje se constrói como ser religioso, mesmo sem pertencer a uma Religião.
Olhando para o que acontece durante a nossa vida nos mundos Macro e Micro, no Universo conhecido, é inevitável existirem interrogações inquietantes, as quais a Ciência e a Filosofia, por si sós, não conseguem acalmar e explicar.
Afinal, acender uma vela e orar, ou fazer um desejo, é um dos gestos mais civilizados que as nossas angústias e os nossos anseios provocam. Mas o que ali, em Fátima, se manifestou, caso falhe na resposta alcançada, pode vir a ser motor de arranque para a acção.
Mendo Henriques 15 Fev 12
Uma das coisa mais estúpidas da república é a transformação do laicismo republicano numa espécie de tabu de falar em temas religiosos ou na falta deles. O que é bom é que, entre portugueses, haja informação e debate entre religiosos agnósticos e ateus, cada qual com seus argumentos. Não se trata de armar barricadas mas de entender que a razão é suficiente para debater o que anima a consciência de cada um
Neste sentido, o Filipe Avillez anda a prestar um ótimo serviço - gratuito - com o seu blogue e newsletter Atualidade Religiosa.
Várias vezes por semana, ele bombeia informação com graça e rigor. Como hoje é Quarta-feira, há um novo artigo de The Catholic Thing no blogue. Robert Royal analisa a “guerra” entre Obama e os bispos católicos, e não poupa o Presidente. Por cá, D. Jorge Ortiga alertou hoje para o risco de “ruptura social”, por causa da crise. Ontem, na mesma linha, D. José Policarpo pediu aos católicos para serem “voz de esperança”. O FFIlipe ri-se da parvoíce da conspiração contra o Papa em que diz que o objectivo é desacreditar os responsáveis da Igreja. O alvo poderá mesmo ser o Cardeal Bertone, como já tinha indicado aqui. LEmbra que no VAticano está uma delegação britânica chefiada por uma baronesa muçulmana que ontem fez fortes críticas ao secularismo militante. Os Kachin são uma minoria étnica cristã no Myanmar, estão a ser duramente perseguidos pelo Governo. E o que nos vale é que alguém se lembrou de vender terra do Muro das Lamentações no eBay. (O rabino responsável pelo local não está contente!)
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